ECOLOGIA DA PAISAGEM E PLANEJAMENTO AMBIENTAL

MATAS CILIARES UMA ABORDAGEM PRÁTICA EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL

O presente trabalho pretende descrever ações integradas realizadas com a finalidade de recuperação de matas ciliares na região central do Estado de São Paulo, mais precisamente na sub-bacia do Rio Corumbataí, pertencente à Bacia do Baixo Piracicaba.

O trabalho descrito a seguir envolveu pessoas diretamente ligadas ao tema, como também pessoas interessadas em colaborar com o assunto Ecologia na Prática.

O município de Ipeúna apresenta uma área de 207 km2 e possui grandes mananciais importantes que compõem a Bacia do Baixo Piracicaba: o Rio Cabeça e o Rio Passa Cinco, componentes da sub-bacia do Corumbataí.

O Rio Passa Cinco nasce na "cuesta" denominada de Canta Galo e percorre aproximadamente 13 km dentro do município de Ipeúna antes de juntar-se ao Rio Cabeça. Esse rio tem uma boa qualidade de água e pode ser visto como futuro manancial para a cidade, já que atualmente o fornecimento de água no município é feito através de poços semi-artesianos. No entanto, a situação atual do rio é que ele possui muito pouca vegetação nativa em suas margens, predominantemente sua margem esquerda.

A presença de vegetação natural encontra-se praticamente a nível zero em alguns trechos, o que nos causa muita preocupação quanto aos aspectos físicos e químicos, tanto do solo, como da própria água gerando perdas às vezes irreparáveis na fauna e na flora.

Como resultado de reuniões com produtores rurais, lideranças políticas e estudos conjuntos com vários órgãos públicos do Estado, entre os quais podemos citar:

• Secretaria dos Recursos Hídricos,
• Secretaria de Agricultura e Abastecimento
• Comitê da Bacia do Rio Piracicaba,
• Secretaria de Educação, e

destacando o papel do Consórcio Intermunicipal das Bacias dos Rios Piracicaba e Capivari, com seu Programa de Educação Ambiental Semana da Água realizado no município de Ipeúna, por intermédio da Prefeitura Municipal de Ipeúna anualmente desde 1997, nasceu a idéia das ações integradas aqui descritas, que contaram com a participação de variados segmentos da sociedade ipeunense e da região, entre os quais podemos elencar:

• Escolas Municipais
• Escolas Estaduais
• Creche Municipal
• Grupo da Terceira Idade
• Casa da Agricultura
• Rotary Club de Ipeúna
• Casa da Amizade de Ipeúna
• Interact Club de Ipeúna
• Clube dos Desbravadores
• Clube dos Escoteiros Marechal Rondon
• Proprietários rurais que trabalham com turismo rural ou com pretensões de recupera;cão de suas áreas ribeirinhas

A situação ambiental local foi objeto de estudos com relação aos recursos hídricos e, percebida a necessidade de ações de recuperação, foram iniciadas várias ações com esse propósito.

O ponto fundamental foi a motivação dos estudantes de pré-escola, primeiro e segundo grau nos estabelecimentos de ensino do município de Ipeúna, executado pelo Projeto de Educação Ambiental Semana da Água, como também a motivação da comunidade num trabalho pessoal "tête-a-tête", que foi responsável pelo êxito do projeto.

Ocorreram diversas formas de motivação como:

• Palestras
• Seminários
• Reuniões
• Capacitação de professores e educadores
• Visitas com vários setores da comunidade a áreas degradadas, inclusive com educadores de outros municípios integrantes do Consórcio, vizinhos ou não
• Visitas a estações de tratamento de esgotos
• Visitas a aterros sanitários
• Visitas a portos de areia
• Apresentação de peças teatrais
• Elaboração de desenhos alusivos ao tema
• Distribuição de bonés e camisetas e adesivos com slogans elaborados pelos próprios alunos participantes das atividades
• Elaboração de dissertações e poesias
• Apresentação e composição de números musicais (Ex: a música Ä Água", pela aluna Juliana, da 3^ª série do ensino fundamental da escola municipal)
• Entrega de Certificados de Participação a todos os integrantes das atividades
• Plantio de árvores com diversos setores da comunidade (associação comercial, grupos religiosos, clubes de serviço), em áreas de lazer do município (Parque Ecológico Henrique Barbetta)
• Concurso de Conscientização Ecológica de Ipeúna
• Observação de plantas nativas

Atualmente, já contamos com vários projetos já executados na área da Ecologia.

Selecionamos para nosso propósito de exposição de caso o projeto de plantio de árvores nativas para recuperação de mata ciliar nas margens do Rio Passa Cinco, na propriedade do Sr. Laerte Antonio Scotton.

• A propriedade em questão possui em sua área um porto de areia, que ocasionou destruição da mata ciliar em alguns pontos. Em obediência à legislação atual, eram necessárias e urgentes ações práticas para reconstituição da vegetação no local. Foi de relevante importância a vontade do produtos rural em agir como forma de prevenção quanto a atitudes de depredação das máquinas, de retirada por frequentadores de espécies vegetais da mata existente (como samambaias e bromélias), bem como o acúmulo de lixo ali deixado por atitudes de desleixo dos usuários

O trabalho então contou com as seguintes fases de realização:

• Estudo da área como um todo
• Reconhecimento da vegetação nativa
• Estudo das atitudes dos freqüentadores da área de lazer (praias de areia em alguns pontos da margem do rio, vizinhas às operações do porto de areia)

As visitas para estudo e planejamento foram realizadas por pessoal técnico e treinado, mas também voluntário.

Após a elaboração do projeto de plantio, foram obtidas as mudas necessárias (300) através do Consórcio Intermunicipal das Bacias dos Rios Piracicaba e Capivari, provenientes do Viveiro Municipal de Piracicaba, a 50 km de distância do município de Ipeúna.

Tratam-se de mudas de espécies nativas da região, desenvolvidas no citado Viveiro.

As espécies plantadas podem ser classificadas em três categorias fundamentais, a seguir:

• Pioneiras, ou Primárias

1. Araribá
2. Aroeira pimenteira
3. Bico de pato
4. Canafístula
5. Cereja do Rio Grande
6. Cinamano
7. Embaúva
8. Embuia de sapo
9. Eritrina
10. Jacarandá mimoso
11. Mutamba da várzea
12. Pau-formiga
13. Sansão do campo
14. Paineira
15. Sangria d’água
16. Jambeiro
17. Uva Japonesa
18. Alfeneiro
19. Açoita-cavalo
20. Ingá

• Não-pioneiras ou secundárias

1. Aldrago
2. Alecrim das campinas
3. Canelinha
4. Coração de mogno
5. Cedro
6. Guatambu
7. Ipê amarelo tabaco
8. Ipê roxo
9. Jatobá
10. Korentéria
11. Mutamba preta
12. Mogno
13. Manguba
14. Sabão de soldado
15. Samaneiro
16. Acerola
17. Ameixa
18. Goiaba
19. Tamarindo
20. Oiti

As mudas foram plantadas com orientação técnica e seguindo vários procedimentos especialmente elaborados com a finalidade de promover uma educação ambiental geral, e promover respeito e conhecimento aos recursos naturais e ambientais.

Entre esses procedimentos podemos salientar:

• Acampamento no local, observando normas de limpeza e conservação e preservação do habitat
• Aproveitamento dos componentes da área, usufruindo dos mesmos sem agredí-los (galhos já caídos, para fazer fogueiras, escolhendo locais com solo desnudo para evitar incêndios e destruição de espécies rasteiras)
• Reconhecimento da qualidade da água, usufruindo da mesma, tanto através do uso, como através da ingestão da mesma em garrafas transparentes, uso na alimentação (elaborada durante a permanência do acampamento), assim como a prática de mergulho e natação no rio.
• Estudo das espécies vegetais ali encontradas e comparação com as novas espécies ali introduzidas pelo plantio, oriundas do Viveiro de Piracicaba.

Com relação aos aspectos técnicos do plantio, procurou-se observar os seguintes procedimentos:

1. Estudo da área levando em consideração a declividade do terreno

- no caso do local, o terreno é de pouca declividade, quase plano

2. Classificação das espécies vegetais existentes e as que seriam objeto do plantio de acordo com os critérios acima descritos (pioneiras e não-pioneiras)
3. Análise do solo – Propriedades físicas e químicas

• o solo em questão é arenoso e apresenta pouco material orgânico em sua composição

1. Abertura das covas para o plantio com o uso de ferramentas apropriadas, evitando o impacto com as partículas do solo, somente retirando as gramíneas, salientando a presença de pouca matéria orgânica e demonstrando a necessidade de uso de composto orgânico complementar para viabilizar o desenvolvimento a contento das espécies plantadas.
2. Uso de composto orgânico formado por calcário e adubo fosfatado
3. Irrigação das espécies demonstrando a importância da água para o desenvolvimento da vida
4. Uso de tutoramento, demonstrando a importância do fator vento na natureza para o denvolvimento e sobrevivência do vegetal..

Na seqüência , procedeu-se a várias atividades ecológicas subsequentes como:

• Recolhimento dos recipientes usados na atividade para evitar a poluição ambiental
• Utilização da água para a higienização das mãos das crianças, fazendo com que elas sentissem a importância primordial da água para a saúde e a vida do homem
• Em seguida à higienização foi montado o acampamento à sombra das árvores ali existentes, destacando o efeito salutar gerado pela copa das árvores no controle da temperatura ambiente, proporcionando relaxamento físico e mental.
• Demonstração de civismo por parte das crianças evidenciado pela coleta do lixo (guardanapos, copos plásticos, etc.) acondicionando-os em sacolas plásticas para evitar a contaminação do local
• A atividade anterior teve como conseqüência evidenciar a necessidade de uma nova tarefa para o proprietário da área, ou seja , a colocação de recipientes para receber o lixo oriundo da freqüência de usuários ao local, sem a presença de um acompanhamento monitorado.

Na seqüência das fases, salientamos:

• monitoramento da área plantada pelo DPRN, Polícia Florestal, Casa da Agricultura, além do exercido pelo proprietário, com a coroação das árvores, bem como o êxito no desenvolvimento das espécies, através da observação da altura e vigor das plantas.
• Podemos salientar como outro ponto fundamental a percepção da criança "in loco" do resultado de suas ações, ou seja, a compreensão de seu "eu oculto", do "ser capaz", o riso apresentado, a análise, o minuto de observação, trazendo-lhe a consciência de sua capacidade de realização.

Essa atividade prática descrita foi realizada no dia 22 de março de 1998, com o plantio de 300 mudas de árvores nativas, tendo a participação de aproximadamente 40 crianças de 8 a 12 anos, monitores, técnicos e membros da comunidade.

Tendo sido obtido êxito nas atividades descritas, foram idealizadas e realizados outros vários projetos no intuito de dar continuidade aos objetivos propostos e consolidar a importância de atitudes práticas na educação ambiental

Sendo assim, procedeu-se a várias atividades ecológicas, que se encontram em diferentes fases de execução. Citaremos as seguintes:

• plantio ao redor do Lago no Núcleo Urbano Lageado (Condomínio Portal dos Nobres), com o

envolvimento de funcionários da administração municipal e do condomínio, alunos (Colégio

Anglo) , Prefeitura e Câmara Municipal de Ipeúna, Casa da Agricultura de Rio Claro e

Consórcio Intermunicipal das Bacias dos Rios Piracicaba e Capivari.

- Plantio de espécies nativas:

- Agropecuária Körin (Fundação Mokiti Okada)

- Fazenda São Judas Tadeu (que apresenta um projeto de piscicultura)

- Camping Passa Cinco

- Camping Bambuzinho

- Margens do Ribeirão Cantagalo, afluente do Rio Passa Cinco

- Fazenda Serra d’Água (porto de areia)

- Parque Ecológico Henrique Barbeta (Salto do Nhô Tó)

• Divulgação das atividades nos meios de comunicação local (rádios, EPTV e TV Rio Claro e jornais)
• Participação em Seminários de Meio-Ambiente e Educação Ambiental na Câmara Municipal de Piracicaba e SEMAE de Piracicaba
• Palestra no Núcleo Regional de Educação Ambiental, na Câmara Municipal de Rio Claro
• Palestra para clubes de serviço (Rotary Club de Ipeúna e Charqueada
• I Arrastão Ecológico de Ipeúna (atividade inovadora e relevante, consistindo na coleta de lixo ambiental em áreas serranas de turismo) promovido pelo Rotary Club e Prefeitura Municipal de Ipeúna

O fator divulgação poderá trazer benefícios valiosos para a comunidade, com a consciência e motivação para a geração de novos projetos locais e regionais.

É esse o nosso objetivo ao expor o presente trabalho.