ARTIGOS

I Fórum de Debates

ECOLOGIA DA PAISAGEM E PLANEJAMENTO AMBIENTAL

 

IMPLANTAÇÃO, REABILITAÇÃO E MANUTENÇÃO DAS ÁREAS VERDES URBANAS EM ARAXÁ- MG.

 

RIOS, Rosângela Eugênia do Amaral ,MALHADO, Ana Cláudia Mendes

 

Introdução

A demanda por novas habitações rapidamente degradaram as áreas verdes existentes na cidade de Araxá, inclusive parte significativa da vegetação ciliar dos ribeirões e córregos que passam pela área urbana, sendo que grande parte destes aquíferos foram canalizados para implantação das avenidas sanitárias, já que recebem os dejetos da cidade. Atualmente o município tem praticamente todo o sistema urbano asfaltado, tendo como conseqüências principais a baixa umidade relativa do ar, o maior aquecimento urbano, a reduzida infiltração de água e aumento nos índices de poluição propiciando uma maior incidência de doenças respiratórias.

Desta urbanização acelerada poucas áreas nativas remanescentes foram mantidas, algumas devido a topografia acidentada, como é o caso das encostas do Parque do Cristo e da mata do bairro Francisco Duarte; ou pela presença de nascentes hídricas como nos bairros Boa Vista, Santa Luzia, Armando Santos, Alvorada e Vila Estância. Estas áreas que são os representantes legítimos do ecossistema natural dominante no local antes da urbanização, servem de refúgio para algumas espécies animais (micos, anus, sanhaços, tucanos e variedades de pássaros) promovendo uma co-existência com conjuntos habitacionais. Assim, estas áreas, apesar de pequenas, passam a ser significativas para garantir o início da reversão da qualidade ambiental atual, trazendo inegáveis benefícios para a qualidade de vida da população local e ainda criando opções para o turista.

Ao recuperar estes locais, com incremento da flora e fauna nativa e introdução de algumas espécies frutíferas, preservando os acessos à comunidade circunvizinha, evitando a depredação dos mesmos e ainda com um trabalho paralelo de educação ambiental, certamente estaremos resgatando não só um recurso natural, mas despertando na população uma conscientização de novos valores, como: respeito a natureza; não jogar lixo na área; não agredir a fauna; que, incorporados, trarão como somatória certamente a melhoria da qualidade de vida para a malha urbana.

 

Objetivos

Objetivo Geral

- Implantar, reabilitar e manter áreas verdes urbanas, visando promover a melhoria da qualidade ambiental e de vida na cidade de Araxá-MG

Objetivos Específicos

- Realizar o levantamento das matas remanescentes, visando manter o controle para reabilitação; manutenção e implantação das áreas verdes urbanas;

- Demarcar e sinalizar as áreas urbanas consideradas de preservação permanente (áreas de nascentes e locais com declividades superiores à 30º) pelo Código Florestal e pelo Plano Diretor Municipal;

- Recuperar o microclima através da purificação do ar, aumento do grau higrométrico, das trocas gasosas e diminuição da amplitude térmica;

- Recuperar, através do plantio de espécies nativas, as matas ciliares remanescentes localizadas nos bairros Alvorada, Vila Estância, Armando Santos, Santa Luzia e Boa Vista;

- Implantar o cinturão verde nas áreas de declividade acentuada (Parque do Cristo e Bairro Francisco Duarte);

- Promover a reestruturação do Parque do Cristo, visando a sua adequação como área de educação ambiental e lazer passivo (caminhadas, meditação e descanso);

- Informar, conscientizar e inteirar a população da cidade no contexto sócio-ambiental do projeto através de mutirões, cursos e palestras de teor na Educação Ambiental.

 

Material e Métodos

Área de estudo

Araxá, cujo nome significa em tupi-guarani "onde primeiro se avista o Sol", é um município com área de 1.140 Km2 e população estimada em 80.000 habitantes, está localizada na região do Alto Paranaíba, no Estado de Minas Gerais. Distante 6 Km do aglomerado urbano está localizado a Estância Hidromineral e Termal do Barreiro de Araxá, o que faz da cidade um dos mais importantes pólos turísticos do Estado. A economia do município foi sustentada até a década de 70, preponderantemente pelas atividades agropecuárias. A partir desta década foram implantados na região 3 grandes empreendimentos minero-industriais, que contribuíram de forma decisiva para consolidação do processo de urbanização do município. Pelo censo demográfico de 1991, praticamente 95% da população habitava a área urbana.

 

Metodologia

Inicialmente foi feito o levantamento botânico, topográfico e fundiário das áreas verdes urbanas e, após, a demarcação das áreas com o estabelecimento da drenagem superficial, tendo em vista o controle da erosão. Em seguida cercou-se a área, de forma a impedir a entrada do gado, prevenir contra incêndios e evitar o uso do local como depósito de lixo.

O solo foi preparado com gradagem seguida de sulcamento e após a abertura das covas, realizou-se a adubação, aplicando fertilizantes NPK 4-14-8 sendo 150g/cova. As áreas com sintomas de deficiência nutricional, tiveram a incorporação superficial de 65g/planta de sulfato de amônia e 15g/planta de cloreto de potássio.

A recomposição das essências nativas baseou-se no método sucessional, o qual favorece o rápido recobrimento do solo e garante a auto- renovação da floresta. Para a classificação das espécies quanto à sua estratégia da dinâmica florestal, seguiu-se os critérios propostos por SWAINE e WHITEMORE, definindo grupos ecológicos para espécies arbóreas de florestas tropicais. Duas categorias maiores se destacam: pioneiras (P) e as clímax. Estas últimas dividem-se em espécies clímax exigentes de luz (CL) e espécies clímax tolerantes à sombra (CS). As espécies P surgem após perturbações que expõem o solo à luz. As espécies CL também têm este comportamento, mas vivem muito mais que as P e, freqüentemente, tornam-se grandes árvores emergentes. As espécies CS sobrevivem na sombra, onde crescem lentamente até atingir o dossel.

O plantio ocorreu em quincôncio (fig.1), tendo um espaçamento de 1,5 X 3,0m com 2.222 mudas por hectare, esta disposição é a recomendada para solos de baixa fertilidade, além de ter sido usada com sucesso na recuperação da CEMIG.

Fig. 1 – Esquema do Método Sucessional com plantio em Quincôncio

A relação das principais espécies plantadas são: Pà Acacia auriculiformes, Acacia mangium, Cecropia pachystachya (embaúba), Clitoria fairchildiana (sombreiro), Mimosa scabrella (bracatinga), M. caesalpinifolia (sabiá), Senna macranthera (fedegoso), Schinus terebinthifolius (aroeirinha), Stenolobium stans (ipê-mirim); CLà Anadenanthera peregrina (angico vermelho), Caesalpinia ferrea (pau ferro), Ceiba speciosa (paineira), Dalbergia nigra (jacarandá da Bahia), Enterolobium contortisiliquum (tamboril), Erythrina falcata, Erybotrya japonica (nespeira), Eugenia pyriformis (uvaia), Eugenia uniflora (pitanga), Genipa americana (genipapo), Inga affinis, Jacaranda mimosifolia, Lithraea molleoides (aroeira), Melia azedarach (cinamoro), Ocotea odorifera (canela sassafrás), Piptadenia gonoacantha (jacaré), Platycyamus regnellii (pau pereira), Tabebeuia chrysotricha (ipê tabaco), T. impetiginosa (ipê-roxo), T. serratifolia (ipê-amarelo) e CSà Xylopia brasiliensis (pindaiba), Myroxylum balsamum (óleo balsamo), Lecythis pisonis (sapucaia), Hymamaea courbaril (jatobá), Copaifera langsdorffii (óleo copaiba), Aspidosperma polyneuron (peroba rosa), entre outras.

O combate as formigas também foi realizado, antes, durante e após o plantio. Por fim, ocorre a manutenção das mudas com limpezas das covas, substituição das mudas mortas e outros.

Conjuntamente aconteceu atuação na área de Educação Ambiental, com elaboração do texto para a cartilha de educação ambiental, contatos preliminares com as lideranças comunitárias, incluindo presidente de associações e dirigentes escolares. Após o contato inicial, realizou-se as reuniões de mobilização com as lideranças de cada bairro visando apresentar as linhas gerais do projeto e iniciar o processo de conscientização através de palestras e atividades de sensibilização com a comunidade.

 

Resultados

O levantamento fitossociológico verificou a presença de remanescentes de mata ciliar, espécies ruderais e vegetação competidora. As espécies de maior ocorrência foram: capim meloso (Mellinis minutiflora), candeia (Gochnatia polymorpha), embaúba (Cecropia pachystachya), monjoeiro (Acacia polyphylla), jacaré (Rapanea guianensis), angico vermelho (Anadenanthera macrocarpa), sangra d`agua (Croton urucurana), amoreira (Morus sp), goiaba (Psidium sp), quaresmeira (Tibouchina granulosa), assa peixe (Vernonia sp), copaiba (Copaifera lansdorffii), ipê do campo (Tabebuia ochracea), camboatá (Cupania vernalis), paineira rosa (Chorisia speciosa), ipê amarelo (T. chrysotricha), etc...

As áreas das matinhas (bairros Francisco Duarte, Boa Vista, Santa Luzia, Alvorada, Armando Santos e Vila Estância) encontram-se cercadas, assim como a Encosta do Parque do Cristo. Nelas foram plantadas 18.000 mudas.

Foi realizado uma cartilha de educação ambiental com ênfase em ecologia urbana. Realizou-se trabalhos de esclarecimentos nas áreas em torno das matas, nas escolas e associações de moradores. Ainda ocorreu 2 encontros pedagógicos voltados ao treinamento de professores da rede pública e particular.

A mídia tem acompanhado todo o processo, sendo percebido uma boa participação nas áreas vizinhas, com interesse principalmente da comunidade escolar em participar do projeto.

Parcerias significativas como doação de 5000 mudas e da madeira para o cercamento da mata do bairro Boa Vista aconteceram. Além disto, as grandes mineradora (Serrana, CBMM e Fosfértil) estão participando da manutenção e implantação dos parques.

Avaliando-se os trabalhos até agora implantados, a equipe considera os resultados bastante positivos.

 

Conclusões

O cercamento da área teve sucesso, principalmente em impedir o depósito de lixo. A participação da mídia, escolas e moradores tem sido efetiva e constante.

O trabalho propiciou uma área de lazer para a comunidade carente, já que 6 áreas se encontram em bairros da classe média/baixa. O envolvimento da população foi muito satisfatório, em todas as categorias, como as parcerias das empresas, o respeito ambiental da sociedade e até a alimentação dos animais das áreas verdes.

Como foi ressaltado no item anterior, os resultados foram positivos, atendendo até o momento as expectativas, repercutindo na região. Assim, Araxá em sua história recente, tem se tornado palco para movimentos de sucesso em defesa do meio ambiente, sendo reconhecida em toda Minas Gerais.

Projeto financiado pelo Fundo Nacional para o Meio Ambiente (F.N.M.A.), um convênio com a Prefeitura Municipal de Araxá.

 

Bibliografia

BRASIL, Serviço de Informação Agrícola, 1964. Recuperação do Cerrado. Guanabara-RJ,154p.

CONSULTA aos técnicos do Setor de Meio Ambiente da Prefeitura Municipal de Araxá.

FERRI, M.G.1969. Plantas do Brasil Espécies de Cerrado. Edusp. São Paulo-SP, 239p

FOLHETIM da Secretaria Municipal de Turismo, Indústria e Comércio de Araxá.

GOODLAND,R. & FERRI, M.G.1979. Ecologia do Cerrado. Edusp. São Paulo-SP,193p.

São Paulo, Secretaria de Estado do Meio Ambiente 1997. Cerrado: Bases para Conservação e Uso Sustentável das Áreas de Cerrado do Estado de São Paulo. S.M.A. São Paulo SP, 113p.

GRIFFITH, J.J.1986. Recuperação de Áreas Degradadas em Unidades de Conservação. Dep. de Eng. Florestal, UFV, Viçosa, 4p.

LIMA, G. T. N. 1999. Das Águas Passadas à Terra do Sol: Ensaio sobre a História de Araxá. BDMG Cultural, Belo Horizonte- MG.