ARTIGOS

I Fórum de Debates

ECOLOGIA DA PAISAGEM E PLANEJAMENTO AMBIENTAL

 

HETEROGENEIDADE DA PAISAGEM NA REGIÃO CÁRSTICA DE COLOMBO - PARANÁ.

 

Fritzsons, E.*; Maciel, M de N. M. **; Peixoto, A. M.***; Biondi, D. ****

(* MSc, doutoranda em Engenharia Florestal, UFPR e bolsista do CNPq, e-mail: fritzson@qwnet.com.br

** MSc, doutoranda, em engenharia florestal, UFPR

*** mestranda em Engenharia Florestal

****Prof a. Dra. Depto de Engenharia Florestal, UFPR.).

 

Introdução

As bacias hidrográficas de Fervida e Ribeirão das Onças, situam-se no carste paranaense, ao norte do município de Colombo, e vêm sendo atualmente objeto de muitos estudos devido à importância adquirida em termos de reserva e extração de água subterrânea próxima à uma zona de forte crescimento demográfico representada por Curitiba. Configuram-se nesta área, de aproximadamente 16 km2 , mosaicos bastante interessantes em termos de diversidade de ocupação da terra, comparecendo pequenas propriedades produtoras de hortaliças envoltas por fragmentos florestais, em relevo suave ondulado a ondulado, típicos do 1o Planalto Paranaense. Esta paisagem agradável, amparada em certo equilíbrio existente entre glebas agrícolas, fragmentos florestais e áreas de campo, facilitam a promoção atual do turismo rural. Assim, tornou-se interessante o desenvolvimento de pesquisas que procurem entender a paisagem que aí se desenvolve.

Um aspecto importante de estudo da paisagem se refere à sua heterogeneidade a qual pode ser dividida em microheterogeneidade e macroheterogeneidade, de acordo com FORMAN & GODRON (1986); sendo a primeira relativa a diferenciações de tipos de elementos de paisagem dispersos na área e a segunda referente à concentração destes tipos de elementos localizados nas extremidades, conforme um gradiente que ocorre desde um pico de uma montanha até o vale. Os mesmos autores apresentam um método para calcular a heterogeneidade baseando-se na freqüência de elementos-tipos da paisagem, tipos estes avaliados por meio de fotos aéreas e posterior estudo da localização e agrupamento dos mesmos na paisagem.

Estudos de paisagem para fins de planejamento se realizam há muito tempo. AMANDIER, (1973), fez um amplo estudo da paisagem do Maciço Albères (centro da França), para separar áreas que seriam convenientes para habitação permanente e de veraneio, e outras com fins de proteção. Os mapas temáticos (geologia, solos, uso da terra, planialtimétrico, etc.) fornecem uma base muito rica de dados de informações, sendo freqüente sua utilização em planejamento do uso da terra. Estas informações cartográficas podem ser utilizadas de forma isolada, um único mapa, ou de forma associada, resultante da sobreposição de diferentes cartas ou planos de informação. Este procedimento comum em trabalhos de estudos ambientais vem sendo realizado desde longa data, conforme estudos pioneiros realizados por Mc HARG (1969). Atualmente, a utilização de Sistemas de Informações Geográficas permitem a interação entre diversos mapas, constituindo-se nos melhores instrumentos de conservação da natureza (BRIDGWATER, 1993).

A atribuição de pesos é outro procedimento comum em estudos de avaliação ambiental, a exemplo dos trabalhos de TroppmaiR (1988) e Khral e trouillard (1994). Os pesos apresentam uma subjetividade inerente ao método, mas que pode ser diminuída se a avaliação for feita por uma equipe multidisciplinar, OREA (1986).

Este trabalho apresenta como objetivo principal, classificar a paisagem das bacias de Fervida e Ribeirão das Onças quanto à sua heterogeneidade, baseado em critérios referentes à diferentes tipos de solos, diferentes tipos de uso e ocupação da terra e diferentes tipos de relevo expresso na freqüência das curvas de nível.

Além da classificação geral., busca-se localizar áreas dentro da bacia com diferentes níveis de heterogeneidade, e representa-las graficamente através de uma carta de heterogeneidade.

 

Método

O método para avaliação da heterogeneidade da paisagem baseou-se na sobreposição de cartas temáticas ou planos de informação.

Foram utilizados os mapas planialtimétrico, em escala 1:10000, com curvas de nível de 5 em 5 metros, mapa pedológico, confeccionado pela Emater/Embrapa (1996), escala 1:10000 e a carta de uso e ocupação da terra, confeccionada por FRITZSONS (1999) , em escala 1:10000. Esta carta de uso e ocupação da terra, foi obtida por foto aérea e compõe-se de 9 tipologias, sendo elas: áreas florestais, áreas de agricultura; áreas de bracatinga; áreas de reflorestamento-pinus; araucárias com gramíneas; áreas de sucessão florestal; áreas de pastagens; áreas de mineração e áreas de habitação.

O mapa pedológico compõe-se de diferentes classes de solos, sendo elas: Associações de solos hidromórficos (Hg), Terra Bruna Roxa estruturada eutrófica (TBRe), Cambissolos distróficos e associações com hidromórficos (Cd), Associação de cambissolos eutróficos (Ce), Cambissolo latossolico álico (Ca) e Litólicos e associações de litólicos e cambissolos (Re).

As etapas realizadas foram as seguintes: a) confecção de uma malha de papel vegetal dividida e numerada em quadrículas equivalentes à 250m2;numa escala de 1:10.000; b) sobreposição desta malha ao mapa de solos das bacias em escala 1:10.000; c) contagem das diferentes classes de solos presentes em cada quadrícula e atribuição de um valor a cada quadrícula; d) contagem das diferentes tipologias de uso da terra em de cada quadrícula; e) contagem do número das curvas de nível em cada quadrícula; f) contagem de todos os pesos somados para cada quadrícula, segundo atribuições referentes `a solo, uso da terra e relevo (curvas de nível); g) classificação do somatório segundo quatro níveis de heterogeneidade; h) confecção final da carta de heterogeneidade. A seguir explica-se detalhadamente esta seqüência:

Os limites das bacias de Fervida e Ribeirão das Onças foram digitalizados a partir de carta na escala de 1:10.000 e divididas em quadrados de 250 m2, os quais foram numerados, perfazendo um total de 232 quadrículas. Esta malha foi sobreposta primeiramente ao mapa de solos, depois ao mapa planialtimétrico, e posteriormente ao de uso e ocupação da terra. Foram conferidos pesos em cada quadrícula, de acordo com a maior diversidade de classes de solos, dos diferentes usos e ocupação da terra e da ocorrência de um maior número de curvas de nível.

Neste trabalho ficou estipulado que um peso maior significa uma maior diversidade, isto em termos de uso e ocupação da terra e de diferentes classes de solo. Assumiu-se também que uma área com maior número de curvas de nível seria uma área de maior diversidade.

Assim, primeiramente, trabalhando com o mapa de pedológico, contou-se o número de tipos diferentes de classes de solos em cada quadrícula, atribuindo-se o peso correspondente na ilustrado na tabela 1. Assim, se na primeira quadrícula aparecessem dois tipos de classes de solos, como Ca (Cambissolo latossólico álico) e litólico (Rd), ela receberia peso 2.

No mapa planialtimétrico, contou-se a ocorrência do número de curvas de nível em cada quadrícula e atribuiu-se um valor referente à ocorrência das curvas. Assim se na primeira quadrícula, ocorressem 7 curvas de nível, receberia peso 2. Ver tabela 1

TABELA 1: Atribuição de pesos referentes às classes de solos, curvas de nível e uso e ocupação das terras

 

Tipos de Solos

Curvas de nível

Uso e ocupação da terra

Pesos

 

 

 

1

1 tipo

0-5 curvas

1 tipologia

2

2 tipos

6-10 curvas

2 tipologias

3

3 tipos

11-15 curvas

3 tipologias

4

4 tipos

>16 curvas

4 a 5 tipologias

5

5 tipos

 

6 a 9 tipologias

No mapa de uso e ocupação da terra, contou-se o número de ocorrência das diferentes tipologias. Assim, se na primeira quadrícula do exemplo, ocorressem 3 diferentes tipologias (áreas florestais, áreas de agricultura e áreas de habitação), ela receberia peso 3.

Ao final, estes pesos foram somados para cada quadrícula. O maior somatório se refere ao número 14 (5+5+4) e o menor ao número 3 (1+1+1). Assim, seria potencialmente possível existir classes entre 3 e 14. Depois de somados os valores, eles seriam classificados em 4 classes: altíssima heterogeneidade (classes de 12 a 14), alta heterogeneidade (classes de 9 a 11), heterogeneidade média (classes de 6 a 8) e baixa heterogeneidade (classes de 3 a 5).

Assim, no exemplo dado referente à quadrícula 1, sua soma seria 7 (2+2+3), classificando-a como de média heterogeneidade.

Para confecção da carta de heterogeneidade, para cada quadrícula foi atribuída uma cor, correspondente a sua classe. Esta carta não pôde ser apresentada neste trabalho devido às dificuldades de redução e simplificação para fins de edição.

 

Resultados e Discussão

Para o total de classes de solo consideradas, mais da metade das quadrículas analisadas (53,4%) apresentaram em seu interior somente 2 classes de solo (referente ao peso 2). Sendo que uma percentagem mínima (0,4%) apresentou 5 classes de solos. Quanto ao relevo, verificou-se que a maior parte das quadrículas apresentou entre 6 a 10 curvas de nível (referente à peso 2) sendo que um pequeno número apresentou relevos mais acidentados (>16 curvas de nível), havendo um certo equilíbrio entre a faixa de que vai de 11 a 25 e de 1 a 5 curvas de nível. Quanto ao uso da terra, observou-se que 50% das quadrículas apresentavam 3 tipologias (referente ao peso 3), aproximadamente 29% apresentavam 4 tipologias (referente ao peso 3), 1,7% apresentavam 5 tipologias (peso 5) e 1,3% equivalente à uma tipologia (peso 1). Não foram observadas quadrículas com mais de 5 tipologias. Quanto à heterogeneidade, produto final do trabalho, não foram encontradas quadrículas que possuíssem, de acordo com os pesos propostos, uma altíssima diversidade. Houve predominância marcante de uma média heterogeneidade, seguido de uma alta heterogeneidade, e uma pequena porcentagem da área com baixa heterogeneidade. A figura 1 ilustra esta distribuição

Figura 1: Distribuição percentual de heterogeneidade

Analisando a carta de heterogeneidade pode-se verificar que na porção central da bacia de Fervida, há o predomínio de uma média heterogeneidade sendo que na bacia de Ribeirão das Onças, a representação da classe de alta diversidade é maior.

 

Conclusões e recomendações

De acordo com os pesos propostos neste trabalho, verificou-se que a área de estudo apresenta de modo geral, uma média heterogeneidade, comparecendo áreas de alta diversidade às vezes de forma dispersa, ás vezes de forma concentrada. Observou-se que a bacia de Ribeirão das Onças, a presença das classes de alta heterogeneidade é maior. Entretanto, seria interessante uma quantificação destas diferenças para se verificar as origens desta diversidade.

Deve ser observado que com este método, a resposta quanto à heterogeneidade pode e deve mudar de acordo com o tamanho das quadrículas consideradas. Isto constitui verdade, principalmente na área de estudo devido à fragmentação da paisagem decorrente do diversificado uso da terra. Assim numa quadrícula maior, um maior número de tipologias seriam encontradas.

Este trabalho de síntese cartográfica foi desenvolvido a partir de mapas temáticos. Seria interessante que houvesse uma checagem em campo das diferentes classes de heterogeneidade encontradas. Através de uma avaliação visual poder-se ia comparar as classes e verificar se as diferenças aparecem de forma expressiva ou não. A princípio se espera serem visíveis estas diferenças pois os aspectos considerados (curvas de nível e uso da terra) são aparentes, a exceção é constituída pelas classes de solo, as quais não são nítidas, principalmente para profissionais não treinados em pedologia.

A utilização de um Sistema de Informações Geográficas é aconselhável neste tipo de trabalho, pois possibilitaria a avaliação de área maiores e ou a integração de um maior número de informações e facilidade na alteração dos pesos.

Seria recomendável, uma vez que esta área apresenta uma vocação turística, principalmente em função do aspecto visual, que se fizesse um estudo da relação da avaliação da qualidade de paisagem com a heterogeneidade obtida neste trabalho. Caso houvesse correlação positiva, isto daria subsídios na forma de informações para poder orientar a conservação desta paisagem.

 

Referências bibliográficas

Andier L. Bases phito-ecologiques pour l’amenagement du paysage du massif des Albéres. Centre et. Phytossociologi. Ecol. L. Emberger edit. 144p. 1973.

Bridgwater, P. B., Landscape ecology, geographic information systems and nature conservation in: Landscape Ecology and GIS. London: Taylor and Francis. p. 23-36. 1993

EMATER / EMBRAPA. Mapa de solos da região do Karst. Colombo, 1996. 1 mapa : preto e branco; 59x102 cm. Escala 1:10.000.

FORMAN & GODRON. Landscape ecology. New York: John Viley & Sons. 619p. 1986.

FRITZSONS, E. Avaliação do impacto da contaminação por nitrogênio na bacia hidrográfica cárstica de Fervida / Ribeirão das Onças –Colombo / Pr. Curitiba, 1999. (mestrado em Engenharia Florestal). Universidade Federal do Paraná.

HRKAL, Z. & TROUILLARD, J. M. Use of GIS for optimization of human activity in a catchment area: an example of the Beauce region (France). Environmental Geology, Estocolmo, v. 24, p. 22-27, 1994.

MC Harg. Design with nature. USA: Falcon express 169p. 1969.

OREA, D. G. Evaluacion del impacto ambiental de proyetos agrarios. Madrid : Ministério de Agricultura Pesca y Alimentacion, 1986, 286 p. (Estudios monográficos num. 6).

TROPPMAIR. H. Metodologias simples para pesquisar o meio ambiente. Rio Claro : [ s.n] , , 1988. 232 p.