ARTIGOS

I Fórum de Debates

ECOLOGIA DA PAISAGEM E PLANEJAMENTO AMBIENTAL

 

EVOLUÇÃO DO USO E OCUPAÇÃO DA TERRA NO ENTORNO DOS PARQUES ESTADUAIS DA CANTAREIRA E ALBERTO LÖFGREN.1

 

Dimas Antonio da SILVA2 ,Felisberto CAVALHEIRO3 ,Marina Mitsue KANASHIRO2

1 Parte da dissertação de Mestrado apresentada pelo primeiro autor em 29.03.2000 ao Departamento de Geografia/FFLCH/USP.

2 Instituto Florestal, CINP/SMA. geoc@iflorestsp.br.

3 Departamento de Geografia, FFLCH/USP.

 

1. Introdução

Os parques estaduais da Cantareira e Alberto Löfgren são áreas verdes remanescentes na Região Metropolitana de São Paulo. Constituem-se em importante amostra representativa da paisagem natural, abrigo da fauna e flora locais, destinadas à educação ambiental, recreação e pesquisa científica. Localizam-se entre as coordenadas 23º19’12" e 23º30’ de latitude sul e 46º27’ e 46º44’36" de longitude oeste Grw. e abrangem parte dos municípios de São Paulo, Guarulhos, Mairiporã e Caieirias.

A conservação de uma área natural é complementada pelo uso adequado da terra ao seu redor, pois certas atividades realizadas fora do seu domínio, podem repercutir negativamente em seu interior, degradando-a (SILVA, 2000).

A conservação destes parques e de seus arredores é primordial para a manutenção da qualidade ambiental da Grande São Paulo. Necessitam portanto, de levantamentos básicos que subsidiam a elaboração de planos de gestão ambiental. Desta forma, este estudo tem como objetivos mapear a evolução do uso e ocupação da terra no entorno dessas unidades de conservação ambiental, avaliar as alterações ambientais e levantar os remanescentes florestais.

 

2. Metodologia

Este trabalho foi realizado com base em revisão bibliográfica e cartográfica, fotointerpretação de fotografias aéreas verticais pancromáticas de 1962 e 1994 (escala aproximada 1:25.000) e trabalhos de campo. As informações assim obtidas foram transferidas para a base topográfica do IBGE (folhas Guarulhos e Itaquaquecetuba), escala 1:50.000, ano de 1984. Posteriormente, foram confeccionados os mapas em formato digital georreferenciados, para tanto, utilizou-se mesa digitalizadora e software AutoCad14.

Foram definidas as seguintes classes de uso da terra que serviram de base para a fotointerpretação: Cobertura Vegetal Natural (mata e capoeira), Utilização Agrícola (reflorestamento, atividade hortifrutigranjeira e campo antrópico/pastagem), Área Urbana/Expansão (bairro de médio padrão, bairro-jardim, casas autoconstruídas, área residencial parcialmente ocupada, conjuntos habitacionais uni e multi-familiares, condomínio de alto padrão e chácara residencial com baixa densidade de ocupação, condomínio de alto padrão e chácara residencial com alta densidade de ocupação, loteamento desocupado e indústria), Mineração (pedreira ativa e desativada e olaria) e Outros Usos (clube, área institucional, aterro sanitário e movimento de terra/solo exposto).

Definiu-se como área de entorno dos parques estaduais da Cantareira e Alberto Löfgren uma faixa de 2km, considerada de influência imediata, onde as diversas formas de uso e ocupação da terra produzem impactos ambientais diretos sobre essas áreas naturais.

 

3. Resultados e discussão

A FIGURA 1 e a Tabela 1 mostram que para o ano de 1962, a cobertura florestal (mata e capoeira) com 6311,32 ha (40,30%) predominava no entorno dos parques estaduais da Cantareira e Alberto Löfgren. Porém, no município de São Paulo, já nesse ano, as formações arbóreas/arbustivas naturais ocorriam de forma restrita, ocupando capões isolados, ou constituindo prolongamentos da vegetação para além dos limites do Parque Estadual da Cantareira.

 

Tabela 1 - Área (ha e %) das classes do uso da terra no entorno dos parques estaduais da Cantareira e Alberto Löfgren – 1962

Classe de uso

Área (ha)

Área (%)

Cob. Vegetal Natural

Mata

2551.59

16.29

Capoeira

3759.73

24.01

Utilização Agrícola

Reflorestamento

1226.93

7.83

hortifrutigranjeira

1108.61

7.08

campo antrópico/pastagem

2536.37

16.20

Área Urbana/

Expansão

bairro médio padrão

440.78

2.81

bairro-jardim

144.30

0.92

res. parcial. ocupado

956.46

6.11

cond. baixa densidade

1234.89

7.89

loteamento desocupado

1065.57

6.80

indústria

21.07

0.13

Mineração

pedreira

114.12

0.73

olaria

48.67

0.31

Outros usos

clube

24.87

0.16

área institucional

309.13

1.97

movimento de terra

116.54

0.74

TOTAL

15660.00

100.00

As áreas urbanas/expansão ocupavam 3863,07 ha (24,66%). Nesta classe predominavam os condomínios de alto padrão e chácaras residenciais (com baixa densidade de ocupação) localizados preferencialmente na face norte da Serra da Cantareira, municípios de Mairiporã, Caieiras e Guarulhos.

Os campos antrópicos/pastagem com 2536,37 ha (16,20%) apareciam disseminados por toda a área.

Os reflorestamentos de pinus e eucalipto e as áreas hortifrutigranjeiras somavam 2335,54 ha (14,91%). Esta atividade agrícola era desenvolvida predominantemente na área denominada Cachoeira, divisa São Paulo – Guarulhos.

As áreas institucionais ocupavam 334 ha (2,13%) enquanto a atividade mineraria, somente 162,79 ha (1,04%).

A FIGURA 2 e a Tabela 2 demonstram que as matas e capoeiras cobriam no ano de 1994 4697,77 ha (30%). Em relação ao ano de 1962 detectou-se uma redução de 1613,55 ha da cobertura florestal do entorno dos parques estaduais da Cantareira e Alberto Löfgren. Em média foram desmatados 50 ha por ano.

 

 

Tabela 2 - Área (ha e %) das classes do uso da terra no entorno dos parques estaduais da Cantareira e Alberto Löfgren – 1994

Classes de uso

Área (ha)

Área (%)

Cob. Vegetal Natural

mata

2380.79

15.20

capoeira

2316.98

14.80

Utilização Agrícola

Reflorestamento

815.15

5.21

Hortifrutigranjeira

558.28

3.57

campo antrópico/pastagem

1467.68

9.37

Área Urbana/

Expansão

bairro de médio padrão

1590.51

10.16

bairro-jardim

323.06

2.06

casa autoconstruída

1023.05

6.53

res.parcial. ocupado

220.48

1.41

conjunto habitacional

132.02

0.84

cond. baixa densidade

2720.7

17.37

cond. alta densidade

688.9

4.40

loteamento desocupado

439.09

2.80

indústria

74.01

0.47

Mineração

pedreira

273.21

1.75

olaria

12.02

0.08

 

Outros usos

clube

117.92

0.75

área institucional

343.89

2.20

aterro sanitário

27.83

0.18

movimento de terra

134.06

0.86

TOTAL

15660.00

100.00

 

 

As áreas urbanas/expansão ocupavam 7221,82 ha (46,04%), havendo um aumento expressivo de 3358,75 ha.

Por sua vez, os campos antrópicos/pastagem, reflorestamento e atividades hortifrutigranjeiras apresentaram uma redução significativa de suas áreas.

De maneira geral, observou-se, para o período analisado (1962 a 1994), uma expansão urbana progressiva, caracterizada por residências unifamiliares na face sul da Serra da Cantareira, municípios de São Paulo e Guarulhos. Este crescimento da mancha urbana ocorreu sobre campos antrópicos/pastagem, áreas com atividade hortifrutigranjeira, reflorestamentos e secundariamente, sobre matas e capoeiras.

A face norte, municípios de Mairiporã, Guarulhos e Caieiras, foi ocupada principalmente por condomínios de alto padrão e chácaras residenciais, sendo responsáveis pela fragmentação e desmatamento de parcelas significativas da cobertura florestal. Portanto, após 1962, a degradação da cobertura vegetal natural na face sul não é tão drástica, como o observado na face norte.

Notou-se desta forma, um crescimento da mancha urbana em direção aos parques estaduais da Cantareira e Alberto Löfgren e conseqüente desmatamento da cobertura vegetal remanescente do entorno destas unidades de conservação ambiental. Acentuou-se o caráter de "ilha" destas áreas naturais, "isoladas e cercadas por sistemas antropizados que, quando não produzem fortes pressões sobre suas próprias existências, no mínimo inviabilizam parcialmente certos objetivos de conservação" (MILANO, 1991).

É fundamental a manutenção da cobertura florestal remanescente e deve-se fomentar a sua recuperação, de modo a garantir a qualidade ambiental da região.

As matas e capoeiras constituem-se em áreas prioritárias para o estabelecimento da zona de amortecimento dos parques estaduais da Cantareira e Alberto Löfgren.

 

4. Considerações Finais

A análise têmporo-espacial da evolução do uso da terra possibilitou identificar as alterações ambientais e os impactos provocados pela dinâmica da organização do espaço.

 

5. Referências Bibliográficas

MILANO, M. S.. Estratégia de Conservação da Biodiversidade. Conservação "in situ" e sistemas de unidades de conservação. Brasília, 1991, 45p. (Mimeogr.).

SILVA, D. A.. Evolução do uso e ocupação da terra no entorno dos parques estaduais da Cantareira e Alberto Lögren e impactos ambientais decorrentos do crescimento metropolitano. São Paulo, 2000. 186p. Dissertação (Mestrado em Geografia Física) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo.