ARTIGOS

I Fórum de Debates

ECOLOGIA DA PAISAGEM E PLANEJAMENTO AMBIENTAL

 

A INTERDISCIPLINARIDADE EM QUESTÕES AMBIENTAIS: A COMPREENSÃO DO TODO ATRAVÉS DA SUSTENTABILIDADE PROFUNDA

 

Cláudio Jorge Cançado 1, Fernanda Carla Wasner Vasconcelos 2

1 Doutorando em Ecologia e Recursos Naturais – UFSCar - Mestre em Engenharia Urbana – UFSCar - Especialista em Engenharia Sanitária e Ambiental - UFMG

Rua José Sérgio de Paula, 172/201 – Bairro Fernão Dias - Belo Horizonte – CEP: 31910-270 Telefax: (31)486 -5800 - Email: cjcsc@net.em.com.br

2 Mestranda em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos – UFMG - Especialista em Gestão Ambiental Empresarial – PUC/Minas

Rua Monte Branco, 221 – Bairro Nova Suíça - Belo Horizonte – CEP: 30480-570 - Telefone: (31)332-1835 - Email:fwasner@zipmail.com.br

 

O ser humano como indivíduo interage com o meio ao qual pertence e faz parte, transformando-o de acordo com suas necessidades, dentro de uma ótica unilateral e, muitas vezes, ambígua. Enfocando-se, por exemplo, a questão dos recursos hídricos, observa-se essa ambigüidade. O ser humano necessita de água para o seu abastecimento e sobrevivência, contudo observa-se que o mesmo não se preocupa e a releva a segundo plano, quando vemos que todos os rios urbanos brasileiros (com raras exceções) se tornam soluções para a disposição de seus dejetos. Dessa forma, vê-se a fragilidade e a centralização do homem em si mesmo. A mudança de interesses calcadas nas mazelas da mais valia e legitimada pela inacessibilidade do conhecimento geram um ciclo vicioso em que a principal vítima é o próprio ser humano.

O conhecimento atual depara-se com as necessidades reais do ser humano, seus problemas e contradições, os quais se apresentam de forma abrangente e pulverizada. Afinal, qual é a finalidade do conhecimento? Não se pressupõe que este deva analisar a realidade, reunir elementos para compreendê-la em sua totalidade e ressaltar possibilidades e, quase sempre, soluções para superá-los? Acredita-se que este seja o papel social do conhecimento. Dessa forma, apresenta-se imperativo que para esses fins tornem-se necessárias às contribuições de diversos ramos do conhecimento e do intercâmbio entre seus representantes para abarcar a realidade e suas facetas.

O ser humano vem atuando sobre sua realidade, através da especificidade do conhecimento compartimentado por áreas. Desenvolvem-se teorias, regras e soluções para inúmeros problemas ambientais quase sempre apresentando a visão do profissional e/ou área do conhecimento envolvida, esquecendo-se, na maioria dos casos, da avaliação do problema de um prisma mais amplo. Essa avaliação deveria levar o ser humano a compreender e repensar todos os processos envolvidos e sobre os outros atores, visto que o mesmo interage sobre ecossistemas complexos e necessários à sobrevivência de todos.

No século XX, houve uma grande quantidade de reconhecimentos e descobertas individuais (estudos puramente conceituais e/ou bastante verticalizados em sua especificidade). No entanto, na iminência do terceiro milênio, os projetos científicos adquirem um caráter gigantesco não só em seu aspecto técnico, mas também nos valores orçamentários.

É preciso "re-aprender" a trabalhar em grupos em que a visão unilateral, o individualismo intelectual e o conhecimento compartimentalizado sejam abolidos em prol da interdisciplinaridade.

Analisando-se do ponto de vista epistemológico, a interdisciplinaridade baseia-se em um método de pesquisa, troca de experiências e de ensino que enfoca a interação de duas ou mais áreas do conhecimento, num processo que pode substanciar-se desde a simples comunicação de idéias até a integração recíproca de finalidades, objetivos, conteúdos, terminologias, metodologias, procedimentos, dados e formas de organização e sistematização para a formação, elaboração e execução do conhecimento.

Esta abordagem para a construção do conhecimento consiste em ampliar para um contexto perceptivo, os conceitos tradicionais. Com isso, as novas informações adquirem um caráter globalizado refletindo, assim, um processo prévio de internalização dos conceitos básicos.

A sociedade deve buscar minimizar e/ou solucionar os impactos gerados por uma industrialização desordenada. Por isso, a visão holística, interiorizada e unificada de diferentes profissionais é fundamental para a concretização do desenvolvimento sustentável.

Diante disso, insere-se, então, a questão da sustentabilidade profunda diante da qual resolve-se o problema ambiental de dentro para fora, através da inserção do conhecimento amplo e abarcado por todas as ciências interagentes, e da mudança da visão centrista do ser humano para a visão holística e comunitária. Assim sendo, as ciências devem abordar o problema ambiental de forma conjunta, onde todos os atores são parte do todo e levando-se em consideração a comunidade e sua interação com o problema.

A formação profunda do cidadão, o desenvolvimento de uma consciência crítica e a elaboração do saber que se privilegie conteúdos abertos cada vez mais abrangentes e livres a novas possibilidades, torna-se um paradigma nas questões ambientais.

Somente com a inserção da comunidade através de um conhecimento compartilhado pelas ciências envolvidas na questão ambiental pode-se alcançar essa sustentabilidade profunda alicerçada na mudança da mesma, enfatizando-se a sua função de cidadão e de agente transformador de nosso planeta. Fica evidente, assim, que a solução para as questões ambientais baseia-se na união entre a comunidade envolvida e seus conhecimentos leigos e o conhecimento das ciências e suas técnicas.

O enfoque orientado em torno da família, a educação ambiental voltada para a sensibilização do ser humano, o acompanhamento educacional e o apoio dos líderes da comunidade são fatores essenciais ao crescimento da consciência profunda necessária às questões ambientais. Essas podem ser divididas e trabalhadas envolvendo-se a todos, através de técnicas de inserção que levem em consideração a sua realidade e suas bases sociais.