ARTIGOS

I Fórum de Debates

ECOLOGIA DA PAISAGEM E PLANEJAMENTO AMBIENTAL

 

EFEITO DO REFLORESTAMENTO NO MICROCLIMA DO HORTO FLORESTAL "EDMUNDO NAVARRO DE ANDRADE", RIO CLARO – SP.

 

Karina Basílio Cerdoura 1, Karime Vieira Albuquerque2, José Luiz Timoni 3

1 Estagiária do Horto Florestal "Edmundo Navarro de Andrade, graduanda em Ecologia, Unesp – Rio Claro.

2 Estagiária do Horto Florestal "Edmundo Navarro de Andrade, graduanda em Ecologia, Unesp – Rio Claro.

3 Pesquisador Cintífico VI e Diretor do Horto Florestal "Edmundo Navarro de Andrade.

 

1.INTRODUÇÃO

As emissões resultantes das atividades humanas têm aumentado substancialmente a concentração atmosférica dos gases CO2, metano, clorofluorcarbonos (CFCs) e óxido nitroso. Aproximadamente 75% das emissões de CO2 resultam da queima de combustíveis fósseis e 25% da ampla devastação florestal. Estes crescentes níveis de CO2 atmosférico começam a provocar alterações notáveis no clima global ( FIELD, 1994 e LEONI, 1999).

As pesquisas relacionadas ao aquecimento global sugerem que o manejo e a conservação florestal podem contribuir para o seqüestro de carbono atmosférico. A biomassa terrestre absorve boa parte do CO2 , emitido pelas atividades humanas, em forma de carbono e o depositam sob a forma de celulose, lignina e outras substâncias relativamente permanentes. Esta característica vem sendo utilizada em florestas plantadas para fins econômicos- sociais, já que possuem a capacidade de captura e fixação de carbono durante toda a sua existência (FLORAN, 1989 e SINGH, 1995).

Frente a importância da problemática das mudanças ambientais decorrentes das atividades humanas, este trabalho vem acrescentar informações referentes aos estudos microclimatológicos da região de Rio Claro.

O principal objetivo deste estudo é comparar dados climatológicos de dois períodos distintos da região do Horto Florestal Navarro de Andrade e verificar as possíveis alterações sofridas pelo reflorestamento com espécies de eucalipto.

 

2.ÁREA DE ESTUDO

O município de Rio Claro situa-se entre as coordenadas 22o 05’ e 22o 40’ S, 47o 30’ e 47o 55’ S, sendo que o Horto Florestal "Edmundo Navarro de Andrade" se situa na interseção das coordenadas 22o 25’ e 47o 33’ W . Segundo Koppen, o clima de Rio Claro é classificado como Cwa, sendo seco no inverno e chuvoso no verão.

O reflorestamento começou a ser efetuado no ano de 1910, através do trabalho do engenheiro agrônomo Edmundo Navarro de Andrade, visando estudar a aclimatação de espécies de eucalipto no Brasil, partindo da necessidade de diminuir o custo da matéria-prima que servia à manutenção da linha férrea . A área na qual se encontra o Horto Florestal foi ocupada, até o final do século XIX por fazendas de café e abriga atualmente 2.222,79ha distribuídos em talhões de eucaliptos de diversas idades, muitos dos quais apresentam o sub - bosque bem desenvolvido.

3.METODOLOGIA

Utilizou-se como referência e para futura comparação um documento antigo pertencente ao arquivo do Horto Florestal de Rio Claro, que contém dados climatólogicos correspondentes ao período de 1889 a 1917, totalizando 28 anos. No período de 1889 a 1909 predominava na área de estudo plantações de café e a partir de 1910 iniciou-se o processo de reflorestamento com eucaliptos. Este documento apresenta os seguintes dados: temperaturas médias, máximas e mínimas absolutas e pluviosidade mensais, coletados no Horto Florestal.

Para realizar a comparação proposta foram levantados dados referentes ao período de 1971 a 1999, totalizando 28 anos. Neste período a floresta de eucaliptos e seu sub – bosque já apresentam um estágio avançado de desenvolvimento. Os dados relativos ao intervalo entre 1971 e 1993, foram coletados no Horto, já a partir de 1994, foram coletados na Estação Meteorológica do Centro de Análise e Planejamento Ambiental – CEAPLA da Unesp de Rio Claro, SP. A partir destes dados foram calculados as temperaturas médias, máximas e mínimas absolutas e pluviosidade mensais.

 

4. RESULTADOS

Tabela 1:

Quadro Climatológico do Horto Florestal "Edmundo Navarro de Andrade" 1889 – 1917

TEMPERATURA

CHUVA

MESES

MÉDIA

MÁX. AB.

MIN. AB.

MM

DIAS

JANEIRO

24,3

36,2

11,2

217,1

16

FEVEREIRO

23,4

35

11

201,7

15

MARÇO

22,8

35,5

11,2

139,3

11

ABRIL

20,8

34,5

5

62

6

MAIO

18,1

32,5

2

48,7

5

JUNHO

16,7

31

0,4

50,5

5

JULHO

16,9

33,5

1,8

31,9

3

AGOSTO

18,4

24,6

0,3

34,2

4

SETEMBRO

19,8

35,5

2,2

73,8

7

OUTUBRO

21,3

36,8

5

102,8

9

NOVEMBRO

22,5

37

8

164,8

11

DEZEMBRO

23,3

36,4

9

221,8

15

MÉDIA

20,7

34,0

5,6

1.348,6

107,0

Total

 

Tabela 2:

Quadro Climatológico do Horto Florestal "Edmundo Navarro de Andrade" 1971 – 1999

TEMPERATURA

CHUVA

MESES

MÉDIA

MÁX. AB.

MIN. AB.

MM

DIAS

JANEIRO

22,9

30,6

16

259,3

15,9

FEVEREIRO

23

30,4

16,1

216,4

13,8

MARÇO

22,7

30,4

15,2

173,4

10,9

ABRIL

21,2

29,7

11,6

85,1

7,4

MAIO

19

28,5

8,5

80,3

7,1

JUNHO

17,4

27,6

5,7

65,2

5,3

JULHO

17,5

28,1

5,6

43,5

3,8

AGOSTO

18,7

30,1

6,7

35,4

3

SETEMBRO

20

31,2

9,2

85,5

7

OUTUBRO

21,3

31,4

11,5

126,7

9,1

NOVEMBRO

22

31,1

13,3

168,6

10,3

DEZEMBRO

22,4

29,9

14,6

251,8

14,4

MÉDIA

20,7

29,9

11,2

1.591,2

108,0

Total

 

Gráfico 1: Temperatura Máximas Absolutas dos períodos estudados.

 

Gráfico 2: Temperaturas Mínimas Absolutas dos períodos estudados.

 

Observando as tabelas 1 e 2 notou-se pequenas quedas nas temperaturas nos meses de novembro, dezembro, janeiro e fevereiro e pequenos aumentos nos meses de abril a agosto, mas a média das temperaturas médias continuou a mesma nos dois períodos (20,7 oC).

Nas tabelas 1 e 2 e no gráfico 1 observou-se a queda das temperaturas máximas absolutas do período de 1971 – 1999 em todos os meses exceto em agosto que passou de 24,6 oC no primeiro período para 30,1 oC no segundo período, superando a temperatura máxima absoluta do mês de dezembro que no primeiro período era a terceira mais alta. O mês de agosto, no período de 1889-1917 possuía a menor temperatura máxima, já no novo período este mês passou a ser junho com 27,6 oC. A média das temperaturas máximas absolutas diminuiu no período mais recente (29,9 oC) em relação ao primeiro período (34,0 oC).

Observando as tabelas, notou-se o aumento das temperaturas mínimas absolutas no período de 1971 –1999 em todos os meses. O mês de junho que no primeiro período possuía 1.4 oC de diferença em relação a julho, passou no período mais recente a possuir uma diferença de 0.1 oC.

As tabelas 1 e 2 referentes a precipitação mostram um aumento na pluviosidade no período de 1971 – 1999 em todos os meses. Sem alterações significativas, a média anual do primeiro período foi de 107,0 dias de chuva enquanto que no período mais recente foi 108,0 dias, mas a precipitação anual aumentou em 242,6 mm, um valor que corresponde à precipitação referente a um mês da estação chuvosa.

 

5.DISCUSSÃO

Os resultados mostram de forma evidente, que no período no qual predominava a cultura do café, as temperaturas máximas absolutas eram maiores em relação ao período atual, variando em 4 oC. Portanto, o reflorestamento efetuado proporcionou uma melhora no conforto térmico na área. Hoje, estudos preliminares no Horto Florestal mostram um gradiente de temperatura de até 5 oC em horários de maior intensidade de calor em relação ao centro de Rio Claro que dista apenas 2 km da área de estudo, isto é, enquanto às 14h no Horto Florestal a temperatura está em torno de 22 oC, o centro de Rio Claro apresenta 27 oC (TIMONI, 1999).

Também se observa que em relação às temperatura mínimas absolutas, a floresta atuou na manutenção do equilíbrio térmico, evitando os resfriamentos bruscos observados no período de 1889 a 1917. Este fato também deve estar relacionado ao processo de aquecimento global, obviamente Rio Claro também sofreu alterações neste sentido, já que nos últimos 140 anos o aumento da concentração de CO2 na atmosfera provocou um aumento na temperatura de 0.5 a 0.7 oC.

Em relação à precipitação atmosférica, os resultados sugerem que a floresta promove uma melhor distribuição das chuvas, isto porque, além da evapotranspiração ser maior, as copas retêm águas que são distribuídas lentamente nos solos, ao contrário das áreas onde não existe vegetação e ocorre um escoamento superficial.

Sabendo da importância das florestas como reguladoras do clima terrestre pode se inferir que a queda nas temperaturas máximas absolutas e a melhor distribuição e contenção das chuvas se deu em virtude da implantação da floresta de eucalipto na área.

Analisando-se os dados, pode-se observar que a amplitude térmica diminuiu e consequentemente a sazonalidade tende a se tornar menos acentuada na região do Horto Florestal.

 

6. LITERATURA CITADA

FIELD, D.G. 1994. Efectos de los cambios climáticos en los manglares. OIMT. 2: 10-11.

FLORAM. 1989. Floresta e Meio Ambiente, Instituto de Estudos Avançados, USP, Coleção Documentos. 33p.

LEONI, S. G. 1999. Seqüestro de carbono realizado por espécies florestais. São Paulo, 30p. Dissertação ( Graduação em Ciências Biológicas ) – Instituto Presbiteriano Mackenzie.

SILVA, C. E. F., FREITAS, J. A., TIMONI, J. L. 1998. Florestas Nativas Seqüestradoras de CO2. Instituto Florestal, Secretaria do Meio Ambiente. 22p.

SINGH, G. 1992. The climate convention: a global sell out. SEA News. 3: 20-25pp.

TIMONI, J. L. 1999. Relatórios Internos do Horto Florestal "Edmundo Navarro de Andrade".