ECOLOGIA DA PAISAGEM E PLANEJAMENTO AMBIENTAL

ECOLOGIA DA PAISAGEM: CONSIDERAÇÕES DE MÉTODO

São vários os significado atribuídos à palavra paisagem. Cada área disciplinar a define de um modo, conforme seu interesse.

Dentro da ciência geográfica são inúmeros os pesquisadores que procuram definí-la.

Atualmente a paisagem é analisada com novas concepções e abordagens, diferentes às do passado.

Neste trabalho o estudo da paisagem é realizado a partir de sua percepção. Essa linha de pensamento define a paisagem a partir da consideração de um espaço subjetivo, sentido e vivido, um espaço de cada ser humano, um espaço individualizado. Bley (1986).

A percepção ambiental é importante na compreensão da dinâmica da paisagem, visto que possibilita entender a conduta do homem com o meio.

Para Machado (1986), "a percepção é um fator sempre presente em toda a atividade humana, que pode fornecer o entendimento das interações entre o homem e o meio ambiente".

Del Rio (1996) define percepção como um processo mental através do qual através do qual nos relacionamos como mundo, a partir de sensações transmitidas ao cérebro pelos cinco sentidos. Esse processo é seletivo, ou seja nossa mente conscientiza-se apenas de parte dessas sensações, e a visão é o sentido que mais se destaca".

Como observa Yi-Fu-TUAN, o processo perceptivo é resultante de uma conduta, a qual pode ser um uma atitude ou mesmo um comportamento consciente.

Os estudos relacionados a percepção da paisagem a partir da análise do comportamento se destacam, pois possibilitam compreender as inter-relações do Homem com as paisagens.

Objetivo

O objetivo deste trabalho é avaliar os métodos de análise da percepção da paisagem na compreensão da dinâmica espacial.

Sendo a percepção um processo individual, cada indivíduo percebe e vê uma paisagem diferente.

Entender as relações entre o homem e a natureza através da percepção da paisagem, é procurar decodificar as atitudes do homem com o ambiente. Essas atitudes são expressas por meio de signos, que traduzem usos, hábitos, valores e expectativas.

Como estudo da realidade foi adotado o estudo de caso da Ilha de Itamaracá-PE, situada no Estado de Pernambuco, cerca de 50 Km ao norte da cidade de Recife, fazendo parte da região nordeste do Brasil. Abaixo estarão as características geoecológicas da Ilha.

É composta de paisagens naturais e artificiais. Segundo Santos (1996), "a paisagem artificial é a paisagem transformada pelo homem, enquanto grosseiramente podemos dizer que a paisagem natural é aquela ainda não mudada pelo esforço humano".

No entanto, dentro das paisagens naturais destaca-se no município, o importante Canal de Santa Cruz, um braço de mar que contorna a Ilha de Itamaracá, separando-a do continente.

O Canal, apresenta extensão aproximada de 22 km, com largura de 1,5 km, possui cerca de 5.292 ha de área estuarina e comunica-se com o Oceano Atlântico, ao norte, pela Barra de Catuama, e ao sul, pela Barra sul.

No leito de Canal deságuam vários rios, como o Catuama, Botafogo, Congo Carrapicho, ao Norte; Arataca, a noroeste e Igarassu e Maniquara, ao sul.

Fazendo parte integrante do complexo Nova Cruz, Igarassu e Itapissuma, a Ilha de Itamaracá e o Canal de Santa Cruz representam um valor cultural, social, econômico e científico de grande importância para a região, devido suas vastas áreas de mangues.

Para o desenvolvimento da pesquisa foram selecionadas duas áreas de estudo: a praia de Jaguaribe e a histórica Vila Velha.

Considerando a beleza cênica da Ilha de Itamaracá, e as diferentes visões e usos da paisagem, foram destacadas as seguintes questões para análise da percepção e os diferentes usos da paisagem.

Qual a verdadeira realidade da Ilha de Itamaracá, quanto a sua infra-estrutura, e o que isso influi na paisagem e no meio ambiente? Quais as paisagens valorizadas? Está havendo uma preservação destas paisagens?

Seguindo a linha metodológica de Lucrécia FERRARA, neste trabalho procurou-se através de técnicas diferenciadas analisar à percepção da paisagem.

Foram utilizadas quatro técnicas.

A primeira técnica foi a aplicação de questionários aplicados nas duas áreas específicas da pesquisa, junto a um pequeno grupo de população local e turistas.

O questionário consiste em treze itens. Por intermédio deste, foi possível obter algumas informações como: 1-nome; 2-idade; 3-natalidade e/ou procedência; 4-profissão; 5-grau de escolaridade; 6-qual o tipo de moradia e/ou estadia na Ilha; 7-como faz para se alimentar na Ilha ; 8-qualidade e disponibilidade da água do local; 9-o destino dos resíduos sólidos; 10-tipo de lazer; 11-religião; 12-emergência hospitalar; 13-a relação com a cidade de Recife.

Mediante essa técnica, pode-se traçar um perfil dos moradores e turistas da Ilha de Itamaracá, bem como observar algumas particularidades da infra-estrutura básica da Ilha de Itamaracá. Através da análise do questionário constatou-se de que maneira a infra-estrutura influi na degradação ambiental.

A segunda técnica da pesquisa, consiste no desenho pictórico da paisagem tanto dos moradores, como dos turistas. Cada sujeito pesquisado desenhou a paisagem sob aspecto de sua percepção e de acordo com sua imaginação e não necessariamente uma cópia de qualquer paisagem do espaço vivido.

Desenvolveu-se essa técnica do desenho da paisagem, para através dos signos expressados nestes, servir como subsídio para a análise da segunda questão, a qual se refere às paisagens valorizadas.

Quanto à terceira técnica solicitou-se que cada sujeito fotografasse seus lugares urbanos. Uma vez que através da fotografia segundo Ferrara (1996), "seria então possível flagrar o modo de como se relacionavam com o meio ambiente e o que conseguiam perceber e valorizar".

Para que as fotografias não ficassem desordenadas, foi necessário controlá-las. Cada sujeito foi demandado a fotografar seguindo a ordem dos seguintes temas: Paisagem Valorizada e Degradação Ambiental.

As fotografias dos moradores e turistas com o tema paisagem, é uma complementação da técnica anterior (desenho da paisagem) e servem também como subsídio para a análise da questão referente às paisagens valorizadas.

As fotografias com o tema degradação ambiental, foi utilizada para a identificar o grau de degradação ambiental da Ilha e de que maneira essa degradação é revelada na percepção dos moradores e turistas.

As fotografias dos moradores e turistas utilizadas como técnica na referente pesquisa é importante e eficaz, pois como afirma Ferrara (1993), "elas constituem o documento que confere validade científica à pesquisa, ao mesmo tempo que são signos, representação da percepção ambiental dos moradores". E também de turista, como nesse caso.

A quarta técnica, resume-se no desenho de paisagem e mapa mental. Nessa técnica trabalhou-se apenas com os alunos do ensino fundamental da Escola Pública Luís Cipião, situada em Vila Velha (Itamaracá).

Foram aplicados dois exercícios:

1º: Desenho de paisagem; 2º: Desenho da trajeto da casa até a escola (mapa mental).

O objeto a ser trabalhado nesses exercícios com os alunos da escola, é o espaço que está a seu redor.

Por meio dessas atividades perceptivas, a finalidade é identificar como as crianças percebem seu espaço, isso é possível através dos marcos ou referência expressados nos mapas mentais desenvolvidos por elas.

As técnicas utilizadas no tratamento da percepção da paisagem, tais como aplicação de questionário, desenhos de paisagem, fotografias de paisagem e degradação ambiental e mapa mental contribuem para a compreensão do estudo da inter-relação da sociedade com a natureza.

Fica claro através dos resultados, a eficácia da metodologia adotada o entendimento da temática sócio-ambiental.

FERRARA, LUCRÉCIA D’ALESIO. Olhar Periférico: informação, linguagem, percepção ambiental. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo,1993. 227p.

FERRARA, LUCRÉCIA D’ALESIO. As cidades ilegíveis. In: DEL RIO,VICENTE, OLIVEIRA, LÍVIA. Percepção ambiental: a experiência brasileira. São Paulo: Studio Nobel; São Carlos, SP: Universidade Federal de São Carlos, 1996. p 61-80.

MACHADO, LUCY MARION CALDERINI PHILADELPHO. Reflexões sobre a abordagem perceptiva no estudo da paisagem. Rio Claro: Associação de Geografia Teorética,1986. Resenhado por Machado, L. M. C.P. Rev. Geografia,v.11, p. 143-147,1986.

MACHADO, LUCY MARION CALDERNI PHILADELPHO. Paisagem valorizada: a serra do mar como espaço e lugar. In: DEL RIO, VICENTE, OLIVEIRA, LÍVIA. Percepão ambiental: uma experiência brasileira. São Paulo: Editora Nobel; São Carlos SP: Editora da Universidade de São Carlos, 1996. p 97-119.

SANTOS, MILTON. Metamorfose do espaço habitado: fundamentos teóricos e metodológicos da geografia. 4.ed. São Paulo: Editora Hucitec, 1996.

TUAN, YI-FU. Topofilia: um estudo da percepção , atitudes e valores do meio ambiente. São Paulo: Diefel, 1980.