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I Fórum de Debates

ECOLOGIA DA PAISAGEM E PLANEJAMENTO AMBIENTAL

 

DETERMINAÇÃO DA CAPACIDADE DE CARGA DA TRILHA DA PRAIA DO SUL: UMA ADAPTAÇÃO DO MÉTODO CINFUENTES1

 

Maria de Jesus Robim2,Felisberto Cavalheiro3,Manoel de Azevedo Fontes2

1 Parte da tese de doutorado apresentada pelo primeiro autor ao PPG-ERN da UFSCar – São Carlos - SP

2 Pesquisador Científico do Instituto Florestal – CP 1322 – CEP 01059-970

3 Professor Doutor do Departamento de Geografia, FFLCH/USP.

 

INTRODUÇÃO

A Ilha Anchieta localiza-se no Litoral Norte do Estado de São Paulo, entre as coordenadas geográficas de 23o 31 e 23° 34’ de latitude Sul e 45° 02’ e 45° 05’ de longitude Oeste de Greenwich, na costa do município de Ubatuba, grande polo de atração turística do litoral paulista. Transformada em Parque Estadual no ano de 1977, possui 828 ha e caracteriza-se como sendo um dos únicos Parques Insulares do Brasil totalmente em terras de domínio público.

Do ponto de vista turístico, representa para a região um dos pontos mais atrativos não só pelas suas belezas cênicas, como também pelos aspectos históricos e ecológicos da região. Como destaque do roteiro de passeios de escunas e outras embarcações particulares,

distingue-se por receber um público que procura praias limpas, ambientes mais selvagens, longe do burburinho das praias mais freqüentadas no continente (ROBIM, 1999).

O seu plano de manejo elaborado por GUILLAUMON et al. (1989), estabelece duas zonas destinadas ao Uso Extensivo e Uso Intensivo, nas quais é permitida a visitação pública. Com uma demanda crescente, em média 47.000 visitantes/ano, concentrada nos meses de verão.

Considerando que alguns locais já se tornam congestionados, existe a necessidade de se implantar medidas que limitem o uso e garantam a qualidade ambiental e recreativa dessas áreas. Portanto, propomos neste trabalho a adaptação do método de CINFUENTES (1992) para a determinação da capacidade de carga da Trilha da Praia do Sul, situada na zona de Uso Extensivo do Parque Estadual da Ilha Anchieta (PEIA).

 

METODOLOGIA

Utiliza-se o método de capacidade de carga de CINFUENTES (1992), com a inclusão dos levantamentos do meio biofísico, em seis etapas:

a) a primeira etapa analisa informações sobre as políticas e práticas de manejo concernentes ao PEIA e sua inserção no contexto regional, através de levantamentos bibliográficos; b) a segunda etapa avalia as zonas de uso do PEIA, através do mapa de zoneamento do Plano de Manejo, considerando os objetivos de manejo e as características das zonas de Uso Intensivo e Uso Extensivo, as observações de campo e os levantamentos de informações, junto à administração do parque; essa etapa, também, identifica a infra-estrutura, as atividades desenvolvidas pelos visitantes, as características, preferências, motivação e distribuição dos visitantes em áreas de recreação; c) a terceira etapa elabora a síntese das potencialidades e dos conflitos, considerando os resultados obtidos nas etapas anteriores, da avaliação do uso público e do seu manejo; d) a quarta etapa analisa os aspectos do meio biofísico do PEIA através da interpretação de fotografias aéreas na escala aproximada de 1:25000 e observações de campo; e, e) a quinta etapa determina a capacidade de carga da Trilha da Praia do Sul, considerando os três níveis : a capacidade de carga física (CCF); a capacidade de carga real (CCR) e a capacidade de carga permissível (CCE).

 

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Critérios baseados em CIFUENTES (1990) :

a) O fluxo de visitantes se utiliza de um só sentido da trilha.

b) Cada pessoa ocupa 1m linear de trilha ou seja 1 m2 de superfície (a trilha tem em média 1m)

c) O espaço mínimo entre grupos é de 200m.

d) Os grupos são no máximo de 20 pessoas

e) A extensão da trilha 1100 metros

f) Necessita-se de 2:30 horas para uma visita, o que significa 3,2 períodos em 9 horas de abertura da trilha.

A capacidade de carga física (CCF) é a seguinte:

CCF = V/a x S x t

5 grupos x 20 pessoas/m de trilha = 100 pessoas, que a trilha comporta ao mesmo tempo

CCF = 100 pessoas x 3,2 períodos de visitas/dia

CCF = 320 pessoas/dia

Capacidade de Carga Real (CCR)

Definiu-se como variáveis limitantes para a Praia do Sul:

a) Precipitação: As chuvas na região não são distribuídas de acordo com as estações do ano, mas sim com altos índices de precipitação no ano todo. Critério utilizado: altura pluviométrica de todos os dias dos meses do ano em que a chuva atingiu ³ 10 mm.

b) Erosão: os solos rasos de ocorrência na trilha e a declividade do terreno são os parâmetros para avaliar este fator.

c) Acessibilidade: grau de dificuldade que poderiam ter os visitantes para moverem-se livremente devido à declividade do terreno. Classificando-se como baixo ou nenhum grau de dificuldade, o terrenos com declividades menores que 10%, como grau médio de dificuldade, os terrenos com declividades entre 10% e 20% e, finalmente, como muito difícil, os terrenos com declives maiores do que 20%.

d) Fechamento na semana: estabelecido por Resolução SMA no 87 de 11/12/98, o fechamento do Parque, às quartas-feiras, para manutenção, com exceção dos meses de dezembro, janeiro e fevereiro.

 

Cálculos dos fatores de correção

Considerando que, em dias de chuvas fortes, a trilha fica muito escorregadia em alguns trechos e impede a visitação normal.

O fator de correção para precipitação é:

FCp= 64 dias de chuvas limit./ano . 100 / 365 dias

FCp = 17,53 %

Erodibilidade (FCe)

Nesse estudo, considerou-se as declividades acima de 15%, como sendo uma característica que representa risco de erosão.

Os dados do perfil da trilha e as observações de campo identificaram um total de 228 metros com inclinação superior a 15%.

Fce = ( 228/ 1100) . 100

Fce = 20,72%

 Acessibilidade (FCa)

Refere-se ao grau de dificuldade que os visitantes poderiam ter para mover-se livremente em função da declividade da trilha. Considera-se também para esse fator o mesmo critério utilizado para o cálculo da erodibilidade, portanto o fator de correção para acessibilidade (Fca) será de 20,72%.

Fechamento temporário da trilha (FCf)

O critério utilizado para esse fator é o fechamento da Unidade de Conservação um dia na semana (quarta-feira), nos nove meses do ano. Portanto, 36 dias no ano são fechados para a visitação pública.

 

FCf = ( 36 dias limit./ano ) x 100 / (365 dias limit./ano)

FCf = 9,86 %

As magnitudes para os fatores de correção são:

FC p = 17,53 %

FC e = 20,72 %

FC a = 20,72 %

FC f = 9,86 %

 

CCR = 320 x (100 - 17,53%)/100 x (100 - 20.72%)/100 x (100 - 20,72%)/100 x (100 - 9,86%)/100

CCR = 149 visitas/ dias

 

Capacidade de Carga Efetiva ou Permissível (CCE)

A CCE se obtém comparando a CCR com a Capacidade de Manejo (CM) da administração da área protegida. É necessário conhecer a capacidade de manejo mínima indispensável e determinar qual porcentagem corresponde a CM existente. A CCE será essa porcentagem da CCR.

A fórmula geral de cálculo é a seguinte:

CCE = CCR x (CM / 100)

 

Com base na Tabela 1 a capacidade de manejo existente corresponde a 15% da capacidade de manejo mínima necessária.

CCE = 149 visitas/dia x (15 / 100)

CCE = 149 visitas/dia x 0,15

CCE = 22 visitas/dia

A determinação de um número máximo de 22 visitas/dia está associada à capacidade de manejo da área e demonstra estar aquém da realidade atual. Portanto, a permissão de um número maior de visitantes ou o número de 149 visitas/dia, determinado pela capacidade de carga real da Trilha Praia do Sul, deverá considerar a necessidade de ampliação da capacidade de manejo do parque, conforme indicado na Tabela 1. 

TABELA 1: Capacidade de manejo do PElA (Organização: Maria de Jesus Robim, 1999)

 

Capacidade de Manejo do PelA

 

Categoria

 

Atual

Capacidade de Manejo

Mínima Necessária

 

Balanço

Pessoal

 

 

 

 

1- Administrador

3- Uso Público

1- Administrativo

12- Serviços Diversos

 

1- Administrador

10- Uso Público

3- Administrativo

24- Serviços Diversos

12- Proteção

 

-7 Uso Público

-2 Administrativo

-12 Serviços Diversos

-12 Proteçao

Facilidade

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

1- Píer

1- Centro Visitantes

3- Churrasqueiras

1- Lanchonetes

2- Hospedarias

1- Alojamento Func.

1- Alojamento Estag.

1- Capela

1-Tanque TAMAR

 

 

 

 

 

 

1- Píer

1- Centro Visitantes

3- Churrasqueiras

1- Lanchonetes

2- Hospedarias

1- Alojamento Funcionário

1- Alojamento Estagiário

1- Capela

1-Tanque TAMAR

2- Postos lnformações A, b

2- Conj. Sanitários a, b

3- Delimitação Área Banho a, b,c,

1- Rancho de Sapé c

1- Casa Pescador/ Cerco a

1- Alojamento Pesquisador C

 

 

 

 

 

 

 

 

 

-2 Postos lnformações a, b

- 2 Conj. Sanitários a, b

-3 Delimitação A. B. a, b, c

- 1 Rancho de Sapé c

- 1 Casa Pescadores a

- 1 Aloj. Pesquisador C

 

Equipamentos

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

5- Barcos

2- Pick-up

1-Sedan

1- Trator cJ lmplem.

1- Micro-trator

1- Fone-Fax + 1 Fone

3- Computadores

2-Impressoras

1- Roçadeira Costal

1- Oficina

4- Revolveres

8- Sist Eletr. Solar

6- Sist Aquec. Solar

4- Geradores

  

5- Barcos

2- Pick-up

1-Sedan

1- Trator c/ Implementos

1- Micro-trator

1- Fone-Fax + 1 Fone

3- Computadores

2-Impressoras

1- Roçadeira Costal

1- Oficina

4- Revolveres

8- Sist Eletr. Solar

8- Sist Aquec. Solar

4- Geradores

1- Rádio Fixo

8-HT

1- Barco Motor. Centro

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

-2 Sist Aquecimento Solar

 

-1 Rádio Fixo

-8HT

-1 Barco Motor. Centro

A - Praia do Sul; 8- Praia da Palmas; C - Praia do Presidio

 

BIBLIOGRAFIA

CINFUENTES, M. Determinación de capacidad de carga turistica en areas protegidas. Turrialba: Centro Agronomico Tropical de Investigacion Y Enseñanza - CATIE, 1992. 25 p.

GUILLAUMON, J.R. et al. Plano de manejo do Parque Estadual da Ilha Anchieta. IF-Série Registros, São Paulo, 1989. (1):1-103p.

ROBIM, M. de J. Análise da características do uso recreativo do Parque Estadual da Ilha Anchieta: uma contribuição ao manejo. Tese de doutorado apresentada ao PPG-ERN-UFSCar, São Carlos, 1999. 161p.