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I Fórum de Debates

ECOLOGIA DA PAISAGEM E PLANEJAMENTO AMBIENTAL

 

DELIMITAÇÃO PRELIMINAR DOS BIÓTOPOS NATURAIS NA BACIA DO ARROIO DILÚVIO, VISANDO CONTRIBUIR PARA O MANEJO DOS RECURSOS HÍDRICOS EM PORTO ALEGRE, RS.

 

Maria Luiza Porto1; Heinrich Hasenack1; Paulo Brack2; Sérgio Luis Carvalho Leite2; Eduardo Dias Forneck3; Rafael Garziera Perin3; Taís Cristine Ernst Frizzo3

1Departamento de Ecologia, Instituto de Biociências, UFRGS

2Departamento de Botânica, Instituto de Biociências, UFRGS

3Programa de Pós-Graduação em Ecologia, UFRGS

 

INTRODUÇÃO

A região da grande Porto Alegre-RS vem sofrendo intenso risco de destruição de sua biodiversidade devido ao acelerado avanço urbanístico, seja este irregular ou regular. Os ecossistemas originais vão dando lugar a loteamentos, muitas vezes clandestinos, não existindo políticas públicas de proteção à natureza ou, quando existem, não são eficientes.

As áreas naturais exercem importância significativa sobre a qualidade ambiental do município através de seu valor paisagístico, biodiversidade, estabilidade climática, hidrologia e controle de erosão, entre outros aspectos. A capital do estado, Porto Alegre, possui ainda cerca de 4.500ha de matas nativas em seus morros (Porto e Oliveira, 1998). Este município apresentou, em seu território, cerca de 170 espécies arbóreas nativas (Brack et al., 1998), o que representa, aproximadamente, um terço das espécies que ocorrem no estado.

Na execução deste trabalho, estão sendo utilizados recursos avançados de geoprocessamento. Imagens de satélite e métodos atuais estão servindo como ferramentas para identificação de atributos da paisagem, de forma a levar a uma visão global e sintética dos problemas ambientais e orientar soluções adequadas ao manejo e gerenciamento de áreas no âmbito do município de Porto Alegre. Destaque especial dado à bacia do arroio Dilúvio, onde estudos detalhados de uso e aptidão dos solos cruzados com atributos da paisagem, permitirão um zoneamento ambiental detalhado a nível de unidades de paisagem (entendidas como biótopos), possibilitando um adequado gerenciamento para um desenvolvimento sustentável.

Assim, o objetivo geral desse trabalho é realizar estudos de zoneamento ambiental no município de Porto Alegre, visando contribuir ao manejo adequado de áreas, destacando-se o potencial natural destas, através da elaboração de mapas de zoneamento ambiental, constituídos a partir da interpretação de imagens de satélite, servindo este produto como base a delimitações de questões específicas relativas a flora, fauna e geomorfologia da bacia do arroio Dilúvio, na tentativa de definição dos componentes desta.

 

MATERIAIS E MÉTODOS

Áreas de estudo

A imagem preliminar de Porto Alegre de uso e ocupação do solo (figura 1) foi obtida a partir da interpretação não supervisionada de uma imagem Spot 1998.

Para a escolha das áreas a serem amostradas nos levantamentos foram utilizados os seguintes critérios: a priori, pela cota altimétrica, onde estipularam-se três faixas de altitudes (0-100m, 100-200m e 200-300m) e a rede hidrográfica de contribuintes da bacia do Dilúvio e, a posteriori, para levantamento da flora e da fauna, pela identificação a campo, permitindo a escolha de manchas florestais mais próximas da situação natural. As seguintes áreas foram escolhidas:

a) Parque Saint-Hilaire: duas transecções, uma na floresta aluvial de exposição norte na cota de 0-100m e outra na floresta de fundo de vale na cota de 0-100m.

b) Morro da Companhia: duas transecções, uma na floresta de terras baixas de exposição sul na cota de 0-100m e outra na floresta de encosta de exposição sul na cota de 100-200m.

c) Morro da Polícia: duas transecções, uma na floresta de encosta de exposição sul na cota de 100-200m e outra na floresta de encosta de exposição sul na cota de 200-300m.

d) Morro Santana: duas cotas, uma de 100-200m e uma maior que 300m, onde utilizamos os dados de Mohr e Porto (1998).

Levantamento da vegetação

O levantamento da vegetação seguiu bases fitossociológicas, utilizando-se o método da projeção ortogonal adaptada do quadrante centrado em um ponto (Landau & Porto, 1994), a partir de uma transecção de 30m com orientação norte-sul. Os pontos foram alinhados de dois em dois metros, onde foram amostrados dois indivíduos por ponto. As espécies consideradas foram aquelas que tiveram diâmetro à altura do peito (DAP) maior ou igual a 0,05m. Para cada local forma realizados os levantamentos em duas transeccionais.

Levantamento da avifauna

A observação da avifauna ocorreu na primavera e verão (setembro à janeiro) através de identificação visual, auxiliados por um binóculo prismático Burshell 10X50 mm, e identificação auditiva (zoofonia). O levantamento das espécies seguiu metodologia ad libitum aconselhável para pequenas áreas, onde o esforço do observador é suficientemente grande para amostrar todas as espécies que utilizam a área estudada, pois o observador passou horas suficientes para amostrar toda a área. As áreas escolhidas foram dois ambientes florestais situados na áreas da bacia do Dilúvio (uma no Parque Saint-Hilaire e outra no Morro Santana).

As aves registradas neste trabalho foram identificadas segundo as descrições morfológicas de Sick (1997) e Belton & Dunning (1993).

A classificação e a ordem taxonômica das aves, das listas, são de acordo com Belton (1996).

Definição dos biótopos

Para a definição dos biótopos foram utilizados mapas topográficos do Ministério do Exército na escala 1:50.000 e imagens Landsat TM de 1996.

Na delimitação dos biótopos naturais existentes na bacia do arroio Dilúvio, foram utilizadas as seguintes variáveis: morfologia da paisagem, definida pela altitude e declividade; tipo de ocupação e uso do solo; vegetação dominante (tipo de comunidade) e características da avifauna dominante.

O cruzamento das informações foi obtido com o auxílio de interpretação da imagem Landsat TM 1996 e por máxima verossimilhança gaussiana (rotina Max Like) do software Idrisi32 e, baseando-se nos estudos fitossociológicos realizados nas unidades que serviram para a análise supervisionada executada na imagem.

Na elaboração final do mapa de biótopos naturais da bacia do arroio Dilúvio utilizou-se os softwares Carta Linx versão 1.2 e Corel Draw versão 9.0.

 

RESULTADOS

A figura 1 representa o macrozoneamento ambiental do Município de Porto Alegre onde visualiza-se classes de uso e ocupação do solo. Esta imagem serviu para estabelecer os limites da área a ser estudada (bacia do arroio Dilúvio) e os macrocritérios necessários na escolha das áreas amostrais e no delineamento dos estudos da vegetação.

Figura 1 - Classificação prévia do uso do solo por imagem Spot de 1998.

 

A tabela 1 é resultante dos levantamentos fitossociológicos executados em 8 transeccionais e a relação destes estudos para com os biótopos definidos na figura 2. Os valores comparados são os calculados através do IVI (Índice de Valor de Importância) das espécies vegetais arbóreas por amostra definidos para a Bacia do Arroio Dilúvio

Tabela 1 – Índice de Valor de Importância (IVI) e respectivos biótopos de ocorrências das espécies amostradas na Bacia do Arroio Dilúvio, Porto Alegre – RS. Em negrito, destacam-se as espécies que obtiveram os mais altos IVIs.

Espécie

Biótopo 5

Biótopo 6

Biótopo 7

Biótopo 8

Aioea saligna

15,64

Alchornea triplinervia

9,15

Allophylus edulis

34,65

19,40

9,0

Banara parviflora

6,14

7,42

8,71

10,07

Cabralea cangerana

31,95

Campomanesia rombia

4,06

Campomanesia xanthocarpa

14,86

Casearia decandra

7,14

9,35

Casearia sylvestris

27,94

17,75

15,59

Coussapoa microcarpa

27,22

Crysophyllum gonocarpum

27,20

Crysophylum marginatum

7,88

Diospyros inconstans

18,0

20,87

Endlicheria sp.

3,86

Enterolobium contortisiliquum

8,81

Erythroxylum argentinum

18,79

Eugenia rostrifolia

6,77

7,02

Eugenia scheuchiana

3,59

13,97

Faramea marginata

3,59

7,27

13,72

Ficus organensis

27,39

Gimnanthes concolor

18,25

Gomidesia sp.

15,50

Guapira opposita

183,01

12,04

Hennecartia omphalandra

7,34

Ilex brevicuspis

10,98

Inga sessilis

12,84

Lithraea brasiliensis

14,55

10,96

Luehea divaricata

30,98

19,34

Machaerium paraguariense

22,91

Machaerium stipitatum

6,87

23,20

Matayba elaegnoides

7,64

12,85

Myrcianthes giganthea

8,56

Myrcianthes pungens

7,92

Myrciaria cuspidata

7,02

81,36

N.I. (Myrtaceae)

9,45

Myrsine umbellata

60,18

13,39

Nectandra megapotamica

6,95

Nefelia sp.

3,75

Ocotea catharinensis

9,85

14,67

16,52

Ocotea puberulla

8,34

Prunus sellowii

9,42

Roupala brasiliensis

52,80

Sebastiania brasiliensis

7,61

Sebastiania commersoniana

14,10

71,90

29,82

Sebastiania serrata

7,04

Sorocea bonplandii

37,72

13,55

Symplocos celastrinea

8,29

Trichillia clausenii

42,62

15,36

Vitex megapotamica

19,55

6,71

Xylosma sp.

Zanthoxylum rhoifolium

7,05

Os valores destacados em negrito representam as espécies dominantes devido ao seu maior valor de IVI, as quais denominam as comunidades vegetais arbóreas nos biótopos 5, 6, 7 e 8 (figura 2). Os demais biótopos não estão contemplados nesta tabela pois representam ambientes não florestais, ambientes construídos ou ambientes aquáticos.

Ao total foram identificados 8 biótopos naturais existentes na bacia do arroio Dilúvio: campos baixos e úmidos (Biótopo 1), savanas com butiás e cactáceas (Biótopo 2), campos secos (Biótopo 3), florestas de terras baixas de exposição Sul (Biótopo 4), florestas altas de encostas e de vales em cotas até 100m e exposição Sul (Biótopo 5), florestas baixas de encosta e exposição Sul (Biótopo 6), florestas de terras baixas e exposição Norte (Biótopo 7) e florestas baixas de encosta e exposição Norte (Biótopo 8). Além desses, foram identificados mais dois biótopos referentes a corpos d'água (aquáticos) e os biótopos das áreas construídas (urbanos) que serão analisados na próxima fase deste estudo.

A nomenclatura utilizada para a definição dos biótopos, segundo aspectos florísticos e fisionômicos, é proposta por Porto (1998) para o município de Porto Alegre. As espécies dominantes foram utilizadas para denominar as comunidades vegetais dominantes, que serviram de base para identificar os biótopos naturais, sendo as seguintes:

- Comunidade de Sebastiania commersionana e Machaerium stipitatum (biótopo 7)

- Comunidade de Trichilia clausseni e Sorocea bonplandii (biótopo 5)

- Comunidade de Myrciaria cuspidata e Sebastiania commersionana (biótopo 8)

- Comunidade de Myrsine umbellata e Guapira opposita (biótopo 6)

- Comunidade de Guapira opposita e Myrsine umbellata (biótopo 6)

- Comunidade de Guapira opposita e Faramea marginata (biótopo 5)

A figura 2, obtida pela interpretação de uma imagem Landsat TM , representa os resultados obtidos, até o momento, para uma visualização das unidades de paisagem (biótopos) interpretadas segundo conceito de Bedê et al. (1994). Nesta figura estão representados nove biótopos naturais, oito dos quais caracterizados segundo critérios de morfologia da paisagem, vegetação e fauna. Nesta figura destacam-se os biótopos urbanos (construídos) que serão objeto de detalhamento em futuras trabalhos.

Figura 2 - Mapa preliminar dos biótopos naturais - Bacia do Arroio Dilúvio

 

A tabela 2, refere-se ao levantamento da avifauna nos biótopos 5 e 7. O biótopo 7 apresentou 65 espécies e o biótopo 5, com uma menor riqueza, apresentou 54 espécies.

Tabela 2 - Lista de espécies encontradas nos biótopos 5 e 7.

nome popular

Nome científico

Família

biótopo 5

biótopo 7

1

Inambuguaçu

Crypturellus obsoletus

Tinamidae

X

X

2

Carrapateiro

Mivalgo chimachima

Falconidae

X

X

3

Araquã

Ortalis motmot (guttata)

Cracidae

X

X

4

Saracura-do-brejo

Aramides saracura

Raliidae

X

X

5

Juriti-pupu

Leptotila verrauxi

Columbidae

X

X

6

Juriti-gemedeira

Leptotila rufaxilla

Columbidae

X

7

Rolinha-roxa

Columbina talpacoti

Columbidae

X

8

Alma-de-gato

Piaya cayana

Cuculidae

X

X

9

Anu-preto

Crotophaga ani

Cuculidae

X

10

Beija-flor-de-topete

Stephanoxis lalandi

Trochilidae

X

X

11

Pica-pau-dourado

Piculus aurulentus

Picidae

X

X

12

Picapauzinho-verde-carijó

Verniliornis spilogaster

Picidae

X

13

João-velho

Celeus flavescens

Picidae

X

X

14

Pica-pau-do-campo

Colaptes campestris

Picidae

X

15

Pica-pau-verde-barrado

Colaptes melanochlorus

Picidae

X

X

16

Arapaçu-escamoso

Lepidocolaptes squamatus

Dendrocolaptidae

X

X

17

Arapaçu-verde

Sittasomus griseicapillus

Dendrocolaptidae

X

X

18

Arapaçu-grande

Dendrocolaptes platyrostris

Dendrocolaptidae

X

X

19

João-porca

Lochmias nematura

Furnariidae

X

X

20

Trepador-quiete

Syndactyla rufosuperciliata

Furnariidae

X

X

21

João-de-barro

Furnarius rufus

Furnariidae

X

22

Arredio-oliváceo

Cranioleuca obsoleta

Furnariidae

X

X

23

João-teneném

Synallaxis spixi

Furnariidae

X

24

Vira-folhas

Sclerurus scansor

Furnariidae

X

X

25

Pi-puí

Synallaxis cinerascens

Furnariidae

X

X

26

Brujarara-assobiador

Mackenziaena leachii

Formicariidae

X

X

27

Choca-da-mata

Thamnophilus caerulescens

Formicariidae

X

X

28

Tovaca-campainha

Chamaeza campanisona

Formicariidae

X

29

Chupa-dente

Conopophaga lineata

Formicariidae

X

X

30

Choca-boné-vermelho

Thamnophilus ruficapilus

Formicariidae

X

31

Bem-te-vi

Pitangus sulphuratus

Tyrannidae

X

X

32

Enferrujado

Lathrotriccus euleri

Tyrannidae

X

X

33

Borboletinha-do-mato

Phylloscartes ventralis

Tyrannidae

X

X

34

Risadinha

Camptostoma obsoletum

Tyrannidae

X

X

35

Guaracava-de-bico-curto

Elaenia parvirostris

Tyrannidae

X

X

36

Tororó

Todirostrum plumbeiceps

Tyrannidae

X

X

37

Bico-chato-orelha-preta

Tolmomyias sulphurescens

Tyrannidae

X

X

38

Patinho

Platyrinchus mystaceus

Tyrannidae

X

39

Bem-te-vi-rajado

Myodinastes maculatus

Tyrannidae

X

40

Caneleirinho-preto

Pachyramphus polychopterus

Tyrannidae

X

X

41

Irrê

Myarchus swainsoni

Tyrannidae

X

X

42

Tuque

Elaenia mesoleuca

Tyrannidae

X

43

Caneleirinho-verde

Pachyramphus viridis

Tyrannidae

X

X

44

Suiriri

Tyrannus melancholicus

Tyrannidae

X

45

Dançador

Chiroxiphia caudata

Pipridae

X

X

46

Corruíra

Troglodytes aedon

Troglodytidae

X

X

47

Sabiá-coleira

Turdus albicollis

Muscicapidae/Turdinae

X

X

48

Sabiá-laranjeira

Turdus rufiventris

Muscicapidae/Turdinae

X

X

49

Sabiá-poca

Turdus amaurochalinus

Muscicapidae/Turdinae

X

X

50

Sabiá-una

Platycichla flavipes

Muscicapidae/Turdinae

X

51

Pitiguari

Cyclarhis gujanensis

Vireonidae/Cyclarhinae

X

X

52

Juruviara

Vireo olivaceus

Vireonidae/Vireoninae

X

X

53

Tico-tico

Zonotrichia capensis

Emberezidae/Emberezinae

X

X

54

Quete

Poospiza lateralis

Emberezidae/Emberezinae

X

X

55

Trinca-ferro-verdadeiro

Saltator similis

Emberezidae/Cardinalinae

X

56

Saíra-preciosa

Tangara preciosa/peruviana

Emberezidae/Thraupinae

X

X

57

Gaturamo-rei

Euphonia musica

Emberezidae/Thraupinae

X

X

58

Fim-fim

Euphonia chlorotica

Emberezidae/Thraupinae

X

X

59

Saíra-viúva

Pipraeidea melanonota

Emberezidae/Thraupinae

X

X

60

Gaturamo-serrador

Euphonia pectoralis

Emberezidae/Thraupinae

X

X

61

Sanhaçu-cinzento

Thraupis sayaca

Emberezidae/Thraupinae

X

62

Tiê-preto

Tachyphonus coronatus

Emberezidae/Thraupinae

X

63

Sanhaçu-frade

Stephanophorus diadematus

Emberezidae/Thraupinae

X

64

Cais-cais

Euphonia chalybea

Emberezidae/Thraupinae

X

65

Pula-pula-assobiador

Basileuterus leucoblepharus

Emberezidae/Parulinae

X

X

66

Mariquita

Parula pitiayumi

Emberezidae/Parulinae

X

X

67

Pula-pula

Basileuterus culicivorus

Emberezidae/Parulinae

X

X

68

Pia-cobra

Geothlypis aequinoctialis

Emberezidae/Parulinae

X

69

Cambacica

Coereba flaveola

Emberizidae/Coerebinae

X

X

DISCUSSÃO

A utilização de critérios morfológicos da paisagem parece ter sido a base inicial adequada para definição das unidades de paisagem, possibilitando desta forma, uma macrovisão de situações que favorecem o estabelecimento de recursos naturais distintos de flora, fauna e substrato. Segundo Bedê et al. (1994) "O mapeamento dos biótopos nada mais é que o registro cartográfico de parcelas de uma paisagem sob um enfoque abrangente, integrando aspectos do meio físico, biológico e antrópico na forma de um mosaico de tipologias (tipos de biótopos), que caracteriza uma superfície do ponto de vista ambiental, como um todo."

A análise da vegetação revela , através de estudos fitossociológicos, a existência de comunidades estruturadas e de composição florística esperada para as áreas naturais de Porto Alegre. Porto (1998) define 8 classes de vegetação nativa para o município de Porto Alegre, as quais são claramente identificadas em interpretação de uma imagem Landsat TM , visualizando-se no presente trabalho todas as espécies que foram detectadas como dominantes nas diferentes comunidades constatadas no trabalho acima referido.

A composição florística do estrato das árvores deixa transparecer a sua originalidade como vegetação, no entanto, em muitos casos, o estrato herbáceo e o arbustivo estão alterados, tendo em vista, que os remanescentes da vegetação encontram-se muito próximos da urbanização ou à áreas de utilização agropecuária.

A definição preliminar dos biótopos naturais nos revela, espacialmente, uma situação cuja vegetação tem seu papel importante na retenção do substrato e na disponibilidade de alimento e abrigo para a fauna, podendo estas unidades serem as informações ideais para o manejo e conservação dos recursos naturais em um ambiente urbanizado.

Atualmente, os estudos em estrutura da paisagem e, principalmente, em fragmentação de habitats, vêem utilizando elementos da fauna como objeto de investigação. Como exemplo desta tendência, pode-se citar Flather & Sauer (1996) que encontrou diferentes comportamentos de tolerância à alteração da paisagem em grupos diferentes de pássaros migratórios em uma larga escala. Em outro estudo, Villard & Taylor (1994) verificou que pássaros tolerantes à fragmentação de habitat detectam e colonizam novos habitats mais rápido que pássaros intolerantes. Desta forma, observa-se que as aves, por serem organismos muito móveis e ativos, respondem diretamente às características estruturais da paisagem.

Uma análise preliminar sugere que a maior riqueza encontrada no biótopo 7 está associada à diversidade paisagística deste, pois as bordas deste biótopo estão em contato com campo e banhado; esta situação não ocorre no biótopo 5. Desta forma, os dados de riqueza das aves , revelam diferenças entre biótopos, como é o caso do biótopos 7 e 5, deixando evidenciar, ao mesmo tempo, informações sobre a influência da matriz da paisagem e suas áreas da contato entre biótopos, podendo servir como indicadores para corredores em um planejamento integrado de paisagem.

O geoprocessamento realizado com os dados obtidos possibilitou a integração e a visão sintética necessária, modelando, desta forma, uma situação que mesmo preliminar, informa sobre unidades da paisagem que têm características ambientais homogêneas e que apresentam funcionalidades próprias, as quais devem ser respeitadas no planejamento de espaços. Tais considerações possibilitam aos tomadores de decisão chegarem próximo ao desejável, isto é, a um planejamento ecologicamente sustentado.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Belton, W. 1996. Aves do Rio Grande do Sul: Distribuição e Ecologia. UNISINOS. São Leopoldo.

Belton, W. e Dunning, J. S. 1993. Aves silvestres do Rio Grande do Sul. Fundação Zoobotânica do RS, Porto Alegre, RS.

BRACK, P., RODRIGUES, R. S., SOBRAL, M., LEITE, S. L. de C. 1998. Árvores e arbustos na vegetação natural de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, Brasil. Iheringia, vol II, no. 51, p. 137-166.

FLATHER C. H., SAUER J. R. Using landscape ecology to test hypotheses about large-scale abundance patterns in migratory birds. Ecology, vol 77(1), p. 28-35. 1996.

LANDAU, E. C; PORTO, M.L. Ecologia de paisagem da região do vale do Rio dos Sinos – Santa Cristina do Pinhal, Parobé/RS em bases fitossociológicas e de geoprocessamento. Porto Alegre: UFRGS, 1994. Dissertação (Mestrado em Ecologia), Instituto de Biociências, Curso de Pós-Graduação em Ecologia.

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PORTO, M. L e OLIVEIRA, M. L. A. 1998. Cap. 14.5.: O impacto ambiental no Arroio Dilúvio: a enfermidade da água. In: MENEGAT; R., PORTO, M. L.; CARRARO, C. C.; FERNANDES, L. A. D. 1998. Atlas Ambiental de Porto Alegre. Porto Alegre: Ed. da UFRGS. P. 47.

Sick, H. 1997. Ornitologia Brasileira. Editora Nova Fronteiras. Rio de Janeiro.

VILLARD M. A, TAYLOR P. D. Tolerance to habitat fragmentation influences the colonization of new Habitat by forest birds. Oecologia, vol. 98(3-4), p. 393-401. 1994.