ARTIGOS

I Fórum de Debates

ECOLOGIA DA PAISAGEM E PLANEJAMENTO AMBIENTAL

 

CARACTERIZAÇÃO AMBIENTAL DE UNIDADES DA PAISAGEM DA REGIÃO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

 

Eloir MISSIO(*); Tânia Maria TONIAL(*); José Salatiel Rodrigues PIRES(**); José Eduardo dos SANTOS(**); Carlos HENKE-OLIVEIRA(**) ; Cléber RUBERT(*) & Luiz Eduardo MOSCHINI (**)

(*) Lab. Geoprocessamento, URI, Av. Assis Brasil, 709, 98400-000, Frederico Westphalen, RS.

(**) PPG-ERN/UFSCar. Via Washington Luiz Km 235. 13565-905 -São Carlos, SP.

 

INTRODUÇÃO

A administração do uso dos recursos naturais através de ações direcionadas à manutenção e/ou recuperação da qualidade ambiental, na perspectiva de assegurar a produtividade dos recursos e o desenvolvimento social ao longo do tempo, compreende uma série de procedimentos experimentais dentro do processo de gestão ambiental (PIRES, 1995). A análise ambiental, primeira etapa deste processo, relacionada ao conhecimento dos elementos estruturais da paisagem mediante a investigação das características e interações entre os mesmos (LIMA, 1997), tem despertado o interesse de pesquisadores da área de ecologia na obtenção de informações associadas aos padrões de organização espacial da paisagem, dos processos ecológicos e dos fatores ambientais atuantes sobre os mesmos (OLLINGER, et al. 1998). Nesta perspectiva, os Sistemas de Informação Geográfica (SIGs) constituem a tecnologia mais adequada para este tipo de investigação de fenômenos, relacionados com a engenharia urbana, meio ambiente, geologia, pedologia, vegetação, bacias hidrográficas, usos e ocupação do solo, etc (CALIJURI & RÖHM, 1995), contribuindo principalmente na tomada de decisões para a elaboração de propostas de manejo e gestão ambiental.

O objetivo deste estudo compreende a caracterização ambiental preliminar de unidades da paisagem, representadas por bacias hidrográficas da região noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, quanto aos atributos hipsometria e clinografia, na perspectiva da obtenção de subsídios para a proposição de estratégias de manejo e pesquisa que assegurem a manutenção da qualidade ambiental da área da paisagem em questão.

 

METODOLOGIA

A área de estudo está localizada no Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, mais precisamente Região do Médio Alto Uruguai, entre as latitudes 27o 12’ S e 27o 45’ S e as longitudes 53o 12’ Wgr e 53o 38’ Wgr, abrangendo integralmente o município de Frederico Westphalen e parcialmente os municípios de Caiçara, Vicente Dutra, Seberi, Cristal do Sul, Jaboticaba, Boa Vista das Missões, Taquaraçu do Sul, Vista Alegre e Palmitinho (Figura 1). Esta área compreende cinco unidades da paisagem, representadas pelas bacias hidrográficas do Rio Pardo (RPA), Lajeado Perau (LPE), Lajeado Chiquinha (LCH), Lajeado Castelinho (LCA) e Lajeado Mico (LMI). O principal uso do solo está relacionado ao cultivo de culturas anuais, diversificadas, praticadas em pequenas propriedades, em média com 16,49 ha de área por propriedade, onde é empregada, quase exclusivamente, mão de obra familiar (em média 3,37 pessoas por propriedade) (BRUM, 1999).

 

Figura 1. Localização da área de estudo.

A base cartográfica para a caracterização da área de estudo é constituída de 8 cartas em escala 1:50.000, elaboradas pela Diretoria do Serviço Geográfico do Exército Brasileiro (DSG), (Tabela 1).

Tabela 1. Relação dos mapas utilizados para a elaboração das cartas hipsométrica e clinográfica da área de estudo.

Folhas

Mapa Índice (MI)

Denominação

Escala

SG.22-Y-C-II-2

2885/2

Palmitos

1:50.000

SG.22-Y-C-II-1

2885/1

Iraí

1:50.000

SG.22-Y-C-I-2

2884/2

Itapiranga

1:50.000

SG.22-Y-C-II-4

2885/4

Planalto

1:50.000

SG.22-Y-C-II-3

2885/3

Frederico Westphalen

1:50.000

SG.22-Y-C-I-4

2884/4

Palmitinhos

1:50.000

SG.22-Y-C-V-1

2900/1

Jaboticaba

1:50.000

SG.22-Y-C-V-2

2900/2

Liberato Salzano

1:50.000

O mapa clinográfico foi elaborado a partir do mapa digitalizado de hipsometria e com a interpolação dos valores entre as curvas de nível, o que resultou no modelo digital de elevação (DEM – Digital Elevation Model). Em seguida, os valores foram agrupados em classes clinográficas (em percentagem), para facilitar a análise ambiental quanto a problemas de erosão e zoneamento.

As informações contidas nas cartas foram transferidas para o formato digital, via mesa digitalizadora. As cartas no formato vetorial, foram "rasterizadas" para a elaboração de imagens, utilizando-se uma resolução espacial de 30 metros. Estas imagens foram utilizadas para efetuar cálculos e obter informações, tais como, superfície total da área de estudo em ha; área de cada classe hipsométrica e a área correspondente a cada classe clinográfica (EASTMAN, 1998).

A delimitação das unidades da paisagem (microbacias) foi realizada a partir dos divisores de água das bacias hidrográficas, RPA, LPE, LMI e pelo Rio da Várzea a Leste da área de estudo.

 

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A superfície total calculada para a área de estudo foi de 89.131 ha. A maior parte da área de estudo está ocupada por agroecossistemas com culturas anuais diversificadas (TONIAL et al, 2000). No verão predominam as cultivos de soja, milho, feijão e fumo; no inverno, cultivos de trigo, cevada, aveia e azevém. As áreas naturais e reflorestamentos são constituídas por pequenos fragmentos.

A Figura 2 apresenta a carta das classes hipsométricas encontradas na área de estudo, agrupadas de 50 em 50 metros, exceto a cota mais baixa que vai de 180 a 250m e a cota mais alta que varia de 550 a 610 metros (Tabela 2). A variação hipsométrica encontrada na área estudada foi de 430 metros, compreendida entre 180 e 610 metros de altitude em relação ao nível do mar.

Figura 2. Carta hipsométrica de unidades da paisagem da região Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul.

Tabela 2. Área (ha) calculada de cada classe hipsométrica considerada para a região de estudo.

Classes hipsométricas

Área (ha)

%

180 – 250

3.973

4,46

250 – 300

7.516

8,43

300 – 350

15.277

17,14

350 – 400

12.000

13,46

400 – 450

12.588

14,12

450 – 500

16.803

18,85

500 – 550

17.538

19,69

550 – 600

3.389

3,80

> 600

46

0,05

TOTAL

89.131

100,00

A diferença de nível em curtas distâncias do terreno, presentes na área de estudo, favorece o processo erosivo e um desgaste acelerado dos solos. A erosão hídrica do solo é o resultado de uma interação dos fatores erosividade da chuva e erodibilidade do solo, influenciada pelo comprimento e grau do declive, cobertura e manejo do solo e práticas conservacionistas de suporte (BERTOL & COGO, 1996). A declividade ou pendente determina o potencial de arraste da água de escoamento superficial. Quanto maior o ângulo e comprimento da pendente, maior será a energia potencial que a água de escoamento irá adquirir e maior o seu potencial de desagregação e arraste de partículas (PIRES, 1995). Para melhor visualização da hipsometria e clinografia das unidades da paisagem em estudo foi elaborado o perfil transversal, partindo da foz do Rio Pardo, passando pela área urbana de Frederico Westphalen até a foz do Lajeado Mico e então até a nascente do mesmo (Figura 3).

 

Figura 3. Perfil topográfico da área de estudo.

A análise da carta de clinografia (Figura 4), segundo a classificação de RAMALHO FILHO & BEEK (1995) revela um relevo plano a praticamente plano em 13,31% da área, suave ondulado em 10,96% da área, moderadamente ondulado em 15,01% da área, ondulado em 17,34% da área, forte ondulado em 33,16% da área, montanhoso em 10,07% da área e escarpado em 0,15% da área (Tabela 3).

 

Figura 4. Carta clinográfica de unidades da paisagem da região Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul.

Tabela 3. Classes clinográficas, área em ha e porcentagem relativa de área em cada classe.

Classes clinográficas

Área (ha)

%

0 – 3 %

11.860

13,31

3 – 8 %

9.773

10,96

8 – 13 %

13.377

15,01

13 – 20 %

15.453

17,34

20 – 45 %

29.568

33,16

45 – 100 %

8.974

10,07

Acima de 100 %

136

0,15

TOTAL

89.131

100,00

 

A suscetibilidade a erosão diz respeito ao desgaste que a superfície do solo poderá sofrer, quando submetida a qualquer uso, sem medidas conservacionistas. Depende das condições climáticas (especialmente do regime pluviométrico), das condições do solo (textura, estrutura, permeabilidade, profundidade, capacidade de retenção de água, presença ou ausência de camada compactada e pedregosidade), das condições do relevo (declividade, extensão da pendente e microrrelevo) e da cobertura vegetal (RAMALHO FILHO & BEEK, 1995).

Neste contexto, o homem representa um fator fundamental na alteração da suscetibilidade do solo a erosão, mediante a substituição da vegetação natural de grandes áreas e da atividade agropecuária intensiva, com o uso e manejo do solo muitas vezes inadequados em relação a seus atributos (NASCIMENTO & LOMBARDI NETO, 1999).

Declividades superiores a 20% são encontradas em 43,38 % da área de estudo. Este fato é preocupante, considerando que muitas dessas área são utilizadas na agricultura (culturas anuais), com o uso restrito de tecnologias relacionadas ao manejo e conservação do solo. Apenas 46,4 % dos estabelecimentos agrícolas da região do Médio Alto Uruguai, que compreende 30 municípios, incluindo a área de estudo, executam práticas de conservação do solo. Nesta mesma região, apenas 35,4 % dos estabelecimentos agrícolas utilizam assistência técnica, entretanto, 72% dos estabelecimentos utilizam fertilizantes e corretivos e o controle de pragas e doenças é praticado em 90,7% dos estabelecimentos agrícolas (BRUM, 1999).

Considerando o tipo de agricultura praticado na região, com predomínio da agricultura familiar em micro e pequenas propriedades, a implantação de sistemas agroflorestais seria interessante, porque envolve cultivos combinados de essências florestais com cultivos anuais e/ou com animais, buscando a otimização da produção por unidade de área, mantendo o princípio do rendimento sustentado (DA CROCE, et al. 1997). Neste aspecto, torna-se fundamental a implantação de programas de extensão rural e de educação ambiental no contexto regional, visando auxiliar o produtor rural na utilização de práticas agrícolas, de manejo e de conservação do solo mais adequadas, bem como na conscientização dos mesmos quanto à necessidade da conservação da diversidade biológica.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BERTOL, Ildegardis & COGO, Neroli Pedro. Terraceamento em sistemas de preparo conseracionista de solo: Um novo conceito. Núcleo Regional Sul da Sociedade Brasileira de Ciência do Solo. Lages – SC. 1996. 41p. NRS-SBCS, (Boletim Técnico,1).

BRUM, A.L. Perfil Agropecuário da Região do COREDE do Médio Alto Uruguai. Ed. URI, Frederico Westphalen. 1999

CALIJURI, M.L. & RÖHM, S. A. Sistemas de informações geográficas. Imprensa Universitária, UFV. Viçosa - MG. 1995.

DA CROCE, D.M.; NADAL, R.de; FLOSS, P.A Avaliação de sistemas agroflorestais com erva mate e culturas anuais no Oeste Catarinense. Florianópolis: EPAGRI, 29p. 1997. (EPAGRI. Boletim Técnico, 92)

EASTMAN, J.R. Idrizi for Windows: Introdução e exercícios Tutoriais. J. R. Eastman. Editores da versão em português, Heinrich Hasenack e Eliseu Weber. Porto Alegre, UFRGS – Centro de recursos Idrizi, 1998.

LIMA, E.A.C.F. Estudo da paisagem do município de Ilha Solteira-SP: Subsídio para o planejamento físico ambiental. São Carlos – SP, Brasil. Tese de Doutorado. PPG-ERN/UFSCar, 1997.

NASCIMENTO, P.C. & LOMBARDI NETO, F. Razão de perdas de solo sob cultivo de três leguminosas. R. Bras. Ci. Solo, 23:121-125, 1999.

OLLINGER, S.V.; ABER, J.D. & FEDERER, C.A. Estimating regional forest productivity and water yield using na ecosystem model linked to a GIS. Landscape Ecology. 13:323-334, 1998.

PIRES, J.S.R. Análise ambiental voltada ao planejamento e gerenciamento do ambiente rural: Abordagem metodológica aplicada ao município de Luiz Antônio – SP. São Carlos – SP, Brasil. Tese de Doutorado. PPG-ERN/UFSCar, 1995

RAMALHO FILHO, A. & BEEK, K.J Sistema de avaliação da aptidão agrícola das terras. 3 ed. rev. – Rio de Janeiro: EMBRAPA/CNPS, 1995. 65p.

TONIAL, T.M.; MISSIO, E.; SANTOS, J.E.; PIRES, J.S.R.HENKE-OLIVEIRA, C.; RITTERBUCH, M.A. & ZANG, N. Uso e ocupação do solo de unidades da paisagem da região Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul. I Fórum de Debates Sobre Ecologia da Paisagem e Planejamento Ambiental. Sociedade de Ecologia do Brasil. 2.000. Rio Claro, SP.