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ÍNDICES FAUNÍSTICOS E VARIAÇÃO MENSAL DE DÍPTEROS MUSCÓIDEOS E HIMENÓPTEROS PARASITÓIDES, ASSOCIADOS A FEZES BOVINAS.

Carlos Henrique Marchiori1*, Arício Xavier Linhares2

1Departamento de Biologia do Instituto Luterano de Ensino Superior de Itumbiara-ULBRA.

2Departamento de Parasitologia da Universidade Estadual de Campinas, UNICAMP, Campinas, SP.

*Endereço para correspondência: Av. Uruguai, 686, Jardim América, 75.500-000, Itumbiara-GO.


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RESUMO

Mensalmente, 10 amostras de esterco bovino (de uma semana) foram escolhidas aleatoriamente nas pastagens. Os artrópodes foram extraídos das amostras por flutuação em água. As pupas foram individualizadas, em cápsulas de gelatina até a emergência das moscas adultas e/ou dos seus parasitóides. A respeito dos parasitóides, eles foram mais abundantes durante o período quente e úmido. Os índices faunísticos evidenciaram que a maioria dos hospedeiros e parasitóides foram não dominantes, mas constantes.

Palavras-chave: parasitóides, Diptera, fezes bovinas, índices faunísticos, artrópodes


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INTRODUÇÃO

A degradação de fezes bovinas em pastagens depende de ações físicas regidas pelas condições meteorológicas de cada região como temperatura, chuvas e ventos (4, 9, 10, 12) e de ações biológicas realizadas pelos artrópodes e outros seres vivos (fungos e bactérias). As espécies coprófagas, principalmente aquelas que se desenvolvem no bolo fecal, são as principais responsáveis pelo seu processo de degradação (9).

A rápida degradação do esterco bovino contribui de maneira significativa para a melhoria das condições do solo como fertilização e retorno dos nutrientes a ele, reduzindo o problema de parasitismo do gado bovino. Além disso, a decomposição das fezes minimiza o problema da redução da área de pastagens, devido ao comportamento dos bovinos de não pastarem nas áreas próximas ao bolo fecal intacto (2, 8, 20).

Existem mais de 400 espécies de artrópodes que estão associados ao esterco bovino na América do Norte (4). Dípteros simbovinos são aqueles que se criam em fezes de ruminantes e equídeos (13). Neste grupo de dípteros encontramos as moscas sinantrópicas de grande importância médica e sanitária (3).

 

Como possibilidade de controle desses insetos, além da técnica química por meio dos inseticidas, podem ser usados os chamados reguladores naturais de várias espécies pragas tanto na agricultura, como em áreas de criação animal (17). Entre os reguladores naturais encontramos os parasitóides que são agentes responsáveis pela redução de moscas que proliferam em esterco bovino (15). Muitos trabalhos têm relatado a importância dos parasitóides no controle de moscas que desenvolvem em esterco bovino (14, 18).

MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi realizado na Chácara Vilela, situada no Bairro Village distando 5 quilômetros do centro de Itumbiara-GO, (18º25’S e 49º13’W) às margens do rio Paranaíba. A chácara possui uma área de aproximadamente 29 hectares, com 50 cabeças de gado bovino destinadas à produção leiteira. As fezes coletadas pertenciam a bovinos da raça girolanda. As fezes foram coletadas onde as pastagens eram de Brachiaria brizantha (Hochst ex A. Rich) (braquiarão). A chácara é composta por 6 pastos. Durante o período chuvoso o gado foi tratado somente com capim e durante a seca foi fornecido aos animais alimento à base de ração (Tapuia), resíduo de milho, cana-de-açúcar e capim napier (Pennisetum purpureum Schum).

Mensalmente, durante 1 ano (novembro de 1994 a outubro de 1995), 10 placas de fezes de gado bovino com uma semana de exposição nas pastagens foram escolhidas aleatoriamente nos pastos, coletadas e transportadas ao laboratório, para extração dos artrópodes que ocorreriam após o quinto dia de sua coleta no campo. Juntamente com as fezes, foi retirada uma camada de 5cm do substrato abaixo e imediatamente adjacente às fezes. As pupas foram obtidas por flutuação (19), e retiradas com auxílio de uma peneira, contadas e individualizadas em cápsulas de gelatina (número 00) até a emergência dos dípteros e/ou dos seus parasitóides.

A constância (5) das espécies foi determinada pela fórmula:

C = (P x 100) / N

onde: P= número de coletas contendo a espécie e N= número total de coletas realizadas. De acordo com os percentuais obtidos, as espécies foram separadas nas seguintes categorias: espécies constantes (X) - presentes em mais de 50,0% das coletas; espécies acessórias (Y) - presentes em 25,0% a 50,0% das coletas; espécies acidentais (Z) - presentes em menos de 25,0% das coletas.

A dominância (7) das espécies foi determinada pela fórmula:

Limite superior (LS) = (n1 . Fo / n2 + (n1 . Fo)) x 100

onde:

n1 = 2(K + 1) e n2 = 2(N - K + 1)

Limite Inferior (LI) = ( 1 - (n1 . Fo / n2 + (n1 . Fo) ) x 100

onde:

 

 

n1 = 2(N - K + 1) e n2 = 2(K + 1). Onde: N= número total de indivíduos capturados; K= número de indivíduos de cada espécie; Fo= valor obtido na tabela de distribuição de F, a nível de 5,0% de probalidade (F>1), nos graus de liberdade de n1 e n2. Foram consideradas dominantes as espécies que apresentaram LI maior que LS, quando aplicado K=0.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Em Itumbiara, o clima apresentou duas estações bem definidas: úmida no verão e seca no inverno. Os maiores valores médios de temperatura ocorreram nos meses de novembro e setembro e os mais frios nos meses de junho e julho (Tabela 1).

Tabela 1: Precipitação e temperaturas médias mensais na região de Itumbiara-GO, obtidas na Estação Meteorológica da Faculdade de Ciências Agrárias, no período de novembro de 1994 a outubro de 1995.


Na tabela 2 vemos que: Sarcophagula occidua apresentaram picos populacionais em março, maio e setembro, Ravinia belforti (Prado & Fonseca, 1832) apresentou picos de ocorrência em julho e setembro, Brontaea sp1 (Muscidae) mostrou picos em dezembro e maio, Brontaea sp2 apresentou um pico no mês de dezembro e outro em julho, Cyrtoneurina sp. teve picos populacionais em fevereiro e julho, Palaeosepsis pusio (Schiner, 1868) mostrou picos em abril e junho, Palaeosepsis insularis (Williston, 1896) foi em dezembro e janeiro, Archisepsis scabra (Loew, 1861) foi uma espécie pouco freqüente predominando em março e junho.

Das 8 espécies de dípteros: 12,5% foram coletados no período quente e úmido, 12,5% no período frio e seco, 12,5% no período de transição e 12,5% no período quente e úmido e frio e seco. Neste local não houve predomínio por nenhuma estação. Os resultados neste local foram diferentes aos encontrados em São Carlos-SP (9), onde as espécies apresentaram maior abundância no período quente e úmido. Também pela tabela 2 vemos que: a maioria das espécies parasitóides apresentou picos populacionais nos meses quentes e úmidos. Spalangia drosophilae (Ashmead) foi mais abundante em dezembro e janeiro; as populações de Spalangia endius (Walker, 1830) e Spalangia nigroaenea (Curtis, 1839) tiveram picos em dezembro. As três espécies citadas acima mostraram aumentos populacionais nos meses quentes e úmidos do ano.

Tabela 2: Freqüência relativa de dípteros e seus parasitóides coletados em fezes bovinos nas pastagens da Chácara Vilela, , no período de novembro de 1994 a outubro de 1995.


 

1Em negrito os picos de ocorrência das espécies.

Alguns autores verificaram que S. endius não consegue sobreviver em baixas temperaturas (1). A população de Spalangia cameroni, (Perkins, 1910) confirmou seu pico em janeiro; Trichopria sp. apresentou picos em janeiro e agosto; Neralsia sp. apresentou picos em janeiro e julho; Eucoilinae: sp1 mostrou apenas um pico em dezembro, enquanto que sp2 apresentou picos em janeiro e abril e, sp3 apresentou picos em janeiro e julho. Alguns pesquisadores verificaram que os parasitóides apresentam retomada das suas atividades três meses após o inverno (6).

Com relação aos índices faunísticos mostrados na tabela 3 para os hospedeiros e seus parasitóides, conclui-se que a maioria das espécies apresentou-se constante. Observando os dados brutos obtidos em estudo realizado em São Carlos-SP (9), conclui-se também que Brontaea sp1, Brontaea sp2 e Palaeosepsis pusio coletados nas pastagens da Fazenda Canchim em São Carlos (SP), foram todas espécies constantes. Para S. cameroni e S. endius, os resultados encontrados em Monte-Mor (SP) (11) em fezes de galinha foram diferentes dos obtidos nesse trabalho, no qual essas espécies comportaram-se como acidentais. Os resultados encontrados em São Carlos (16), revelaram que Trichopria sp. foi acidental na Mata da Fazenda Canchim e na Mata da Reserva Ecológica do Jatai, mas acessória na Mata da Lagoa.

Tabela 3 - Índices faunísticos dos dípteros muscóideos e de seus parasitóides, coletados em Itumbiara-GO, de novembro de 1994 a outubro de 1995.


A1 = constância: espécies constantes (X) - presentes em mais de 50,0% das coletas; espécies acessórias (Y) - presentes em 25,0% a 50,0% das coletas; espécies acidentais (Z) - presentes em menos de 25,0% das coletas.

D2 = dominância (ND= não dominante e D= dominante)


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ABSTRACT

Faunistic indexes and monthly variation of Muscoid Dipterous and Himenopterous Parasitoids, associated with bovine dung. Ten randomized samples of bovine dung were taken monthly, from pats approximately one week old, placed in plastic containers and taken to the laboratory where the arthropods were extracted by flotation in water. The pupae were individually placed in gelatin capsules until the emergence of adults flies or their parasitoids. Regarding the parasitoids, they were more abundant during the cool and humid season. The faunistic indexes determined evidenced that the majority of hosts and parasitoids were not dominant, but constant.

Key Words - parasitoids, Diptera, bovine dung, faunistic indexes, arthropods
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