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MEDICINA POPULAR NO DISTRITO DE FERRAZ, MUNICÍPIO
DE RIO CLARO, ESTADO DE SÃO PAULO.
Maria de Fátima Silva-Almeida1 * , Maria Christina
de Mello Amorozo 2
1 Departamento de Botânica - IB UNESP Botucatu.
2 Departamento de Ecologia IB UNESP Rio Claro.
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RESUMO
Objetivando registrar quanto uma população
sem acesso imediato ao sistema oficial de saúde
utiliza as plantas medicinais que conhece, em que situações
de doença as utiliza e quais são essas plantas,
realizou-se um levantamento enfocando dados sócio
econômicos, sobre uso e preparação
de plantas e sobre doenças e visitas a médico.
O trabalho de campo, realizado entre fevereiro e outubro
de 1988, consistiu na aplicação de questionários
em 30% dos domicílios de Ferraz, distrito situado
15 Km ao norte da cidade de Rio Claro, São Paulo,
onde não há hospital, posto de saúde
ou farmácia. O material botânico, coletado
simultaneamente à aplicação dos questionários,
encontra-se depositado no Herbarium Rioclarense. A população
de Ferraz, com quase 17% de analfabetos entre os maiores
de 18 anos e com 16,5% de pessoas com mais de 60 anos,
está numa camada de baixa renda. Essas pessoas
citaram usos para 70 espécies vegetais, sendo que
as folhas foram a parte da planta mais utilizada e o principal
modo de preparo foi o chá. Poucos indicaram dosagem
específica. As doenças consideradas mais
simples são tratadas mais informalmente, usando
plantas medicinais e, algumas vezes, remédios industrializados
sem prescrição médica, o que não
acontece com as doenças mais graves ou operações,
que levam à consulta via de regra. A população
enfocada mostrou ter conhecimento acerca de plantas medicinais.
Porém, os resultados obtidos apontam para uma tendência
ao desuso dessa alternativa importante de tratar doenças
e para a necessidade de conscientização
da população quanto aos perigos do uso indiscriminado
de espécies vegetais.
Palavras chave: Etnobotânica; plantas medicinais;
fitoterapia.
INTRODUÇÃO
O papel das plantas no cotidiano das
populações humanas tem sido objeto de estudos
há longo tempo, de modo geral buscando identificar
na comunidade estudada espécies vegetais com diferentes
usos que pudessem ser incorporadas à economia da
sociedade dos pesquisadores envolvidos.
Com relação às plantas
medicinais, não foi diferente. Seu uso empírico
para tratar diversos males tem proporcionado a descoberta
de medicamentos importantes, como os digitálicos,
drogas derivadas das folhas da dedaleira (Digitalis purpurea
e D. lanata), de poderosa ação específica
sobre o músculo cardíaco. Seus princípios
ativos são hoje armas obrigatórias no combate
a certas doenças do coração. Outros
exemplos são os alcalóides do grupo do tropano,
extraídos da beladona (Atropa belladona) e de outras
plantas da Família Solanaceae, que são antiespasmódicos
ainda sem sucedâneos na terapêutica contemporânea
(8).
Farnsworth, apud em (4), mostrou que
74% das 119 drogas desenvolvidas a partir de plantas,
o foram por estudos científicos idealizados para
avaliar o uso de plantas bem conhecidas na medicina tradicional,
o que evidenciou a importância de se iniciar estudos
farmacológicos tendo por base levantamentos etnobotânicos.
Não obstante isto, e apesar de
muitas comunidades tradicionais e indígenas, instaladas
nos mais diferentes ambientes naturais, guardarem ainda
um vasto conhecimento sobre o assunto, acredita-se que
apenas 10% das espécies vegetais existentes no
planeta foram estudadas do ponto de vista de seus usos
como medicamento.
Entre vários estudos sobre a utilização
de plantas medicinais, destacam-se os realizados com seringueiros
da Reserva Extrativista "Chico Mendes" no Acre,
que citaram usos medicinais para 161 espécies vegetais
(7). Outro estudo foi feito com a população
urbana de Humaitá, com índios de uma aldeia
Tenharim e com a população instalada às
margens do rio Madeira, todos no Estado do Amazonas, citando
uso de 117 espécies (3). Outros autores estudando
os caboclos de Barcarena, Pará, citaram uso de
220 espécies (1).
Além das populações
consideradas tradicionais, grupos de baixa renda, geralmente
instalados na periferia das cidades, utilizam formas alternativas,
mais acessíveis e baratas de tratar suas doenças,
uma vez que o sistema oficial de saúde, nem sempre
disponível, tem-se mostrado cada vez mais ineficiente
(2, 6).
Neste estudo, objetivou-se determinar
e compreender a utilização de plantas medicinais
por uma população com dificuldades de acesso
ao sistema oficial de saúde. Para tanto, a coleta
dos dados foi realizada em Ferraz, distrito situado 15
Km ao norte de Rio Claro, no vale do rio Corumbataí,
Estado de São Paulo, onde chega-se através
de uma estrada pavimentada, num percurso de aproximadamente
30 minutos de ônibus. Há apenas três
horários diários de ônibus, o que
dificulta a movimentação daqueles que não
possuem carro.
A vila não possui hospital, posto
de saúde ou farmácia, sendo servida por
duas casas comerciais que vendem apenas medicamentos que
não necessitam de prescrição médica.
METODOLOGIA
O trabalho de campo foi realizado entre
fevereiro e outubro de 1988, tendo-se efetuado um levantamento
preliminar e mapeamento das casas da vila. Ao todo foram
mapeadas 111 casas, separadas em 2 setores pelo rio Corumbataí.
Para cada setor, tomou-se 30% das casas ao acaso, por
sorteio, resultando num total de 34 casas.
Foram aplicados questionários,
junto aos moradores das casas sorteadas, enfocando aspectos
sócio econômicos, sobre uso substâncias
medicinais de uso caseiro e sobre doenças e visitas
a médico.
As coletas de material botânico
e a identificação das espécies vegetais
foram realizadas simultaneamente à aplicação
dos questionários. As exsicatas encontram-se depositadas
no Herbarium Rioclarense.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Dados sócio econômicos.
As 34 residências visitadas dispõem
de serviços de coleta semanal de lixo, energia
elétrica e água encanada; 25 delas estão
ligadas à rede de esgoto, 8 possuem fossa negra
e uma não possui sequer fossa.
O tamanho médio das propriedades
é de 1.000m2 e todas as casas são de alvenaria,
apresentando média de 6 cômodos, incluídos
cozinha e banheiro. As famílias enfocadas são
compostas, via de regra, por 3 membros, usualmente o casal
e um único filho. Somam, na totalidade, 115 pessoas,
sendo 52,2% homens e 47,8% mulheres. A proporção
de idosos é relativamente alta, com 16,5% acima
de 60 anos, Figura 1.

Figura 1: Estrutura, por sexo e idade, da população
amostrada, localizada no distrito de Ferraz, município
se Rio Claro, SP.
A maior parte dos entrevistados é
procedente de Rio Claro (20,6%). Apenas 17,6% são
nascidos em Ferraz, enquanto os demais 82,4% vêm
de outras cidades, principalmente do Estado de São
Paulo.
Dentre os adultos, maiores de 18 anos,
16,7% são analfabetos e 58,9% fizeram até
a 4a série; havendo apenas um caso (1,3%) de conclusão
de curso superior. Os demais 23,1% compreendem os que
chegaram até a 8a série e os que completaram
o 2o grau (colegial, técnico ou normal).
As principais fontes de renda são
a mineração de areia (extração
de areia por dragagem do leito do rio Corumbataí),
seguida por atividades comerciais e agropecuárias,
exercidas principalmente por homens (16,7% e 6,4%, respectivamente).
As mulheres, em sua maioria (83,3%), desempenham atividades
domésticas. Das 34 famílias amostradas,
apenas 26 possuem refrigerador (76,5%), 16 possuem TV
branco e preto (47,1%) e 12 possuem TV a cores (35,3%).
De modo geral, quando questionados sobre
renda, individual e/ou familiar, os entrevistados dissimularam
ou não responderam, razão pela qual excluiu-se
esse item das entrevistas. Porém, as informações
sócio econômicas levantadas permitem inferir
que essa é uma população de baixa
renda.
Dados sobre a utilização
de plantas. Como a região de estudo é ocupada
há longo tempo, sua vegetação sofreu
severas mudanças. Onde predominava o cerrado e
suas formas variantes, hoje há pastagens e lavouras
de subsistência. Dessa forma, são poucos
os pontos com vegetação natural a serem
explorados, no que diz respeito à obtenção
de espécies com fins terapêuticos.
Os moradores cultivam ou toleram a maioria
das espécies usadas em sua medicina caseira. Das
70 espécies citadas (Tabela 1), 53 são encontradas
nos quintais (75,7%), 2 nos jardins (2,9%) e 15 (21,4%)
são obtidas em pastos, sítios ou são
compradas.
Tabela 1: Espécies vegetais citadas, número
de amostragem (n=70), no distrito de Ferraz, município
de Rio Claro, SP.
As 63 espécies identificadas estão
distribuídas em 31 famílias botânicas,
sendo que a maior parte delas (38,1%) pertence a 4 famílias:
8 Compositae (12,7%), 6 Labiatae (9,5%), 6 Rutaceae (9,5%)
e 4 Leguminoseae (6,4%). Sete espécies não
puderam ser coletadas ou identificadas.
A maior parte dessas espécies
apresenta hábito herbáceo (68,2%), seguindo
as de porte arbóreo (22,2%) e arbustivo (9,6%).
Para cada espécie citada, os informantes
indicaram um ou mais usos, que são apresentados
na Tabela 2.
Tabela 2: Espécies citadas e seus usos conforme
o relato dos entrevistados em distrito de Ferraz, município
de Rio Claro, SP.









(a) inflamação embaixo da unha
(b) pêlos pelo corpo, principalmente na região
da barriga
Obs.: Nas preparações, quando não
indicado, o uso do açúcar nos chás,
xaropes, decoto etc. é indiferente.
Abreviações: Parte usada: Fo = folhas,
Fr = frutos, Fl = flores, Rm = ramos, Rz = raízes,
PT = planta toda, Se = sementes, Bu = bulbos, Ca = caules,
Ri = rizomas, Br = brotos, Es = estigmas, In = infrutescência,
"Ta" = "talo" (parte da folha mais
próxima do caule). Modo de preparo: If = infusão,
Dc = decoto, Su = suco, Tt = tintura, Cr = curtido, Xr
= xarope, Nt = ao natural, Tr = torrado, Ft = frito, Mc
= macerado, Sm = extrair o sumo, Ge = geleia. Rota de
administração: VO = via oral, Bn = banho,
BA = banho de assento, So = sobrepor ao local afetado,
Fc = friccionar, Ap = aplicar com auxílio de seringa,
Lv = lavar, BL = batido no liqüidificador, Bh = bochechos,
Il = inalar, Ga = gargarejou
A parte da planta mais utilizada é
a aérea, principalmente as folhas (49,5%), seguidas
de frutos (11,3%) e flores (10,1%). Outras partes, como
ramos, raízes, sementes, bulbos e outras, somam
29,1%.
O principal modo de preparo é
o chá (50,9%), seguido dos xaropes (12,9%).
Plantas como a hortelã e o poejo
foram citadas para o tratamento de 14 tipos de doença
cada uma. O Confrei e a erva-cidreira, também bastante
usados, foram indicados, respectivamente, para 10 e 9
moléstias diferentes.
Os entrevistados, via de regra, não
praticam uma posologia formal ao utilizar remédios
caseiros. Poucas pessoas indicam dosagem específica
para esses medicamentos, sendo comum ouvir-se dizer "toma
quanto quiser pois, se não faz bem, mal não
faz".
Este comportamento torna-se perigoso,
pois há substâncias tóxicas em algumas
espécies vegetais que podem causar efeito maligno,
conforme a dosagem ingerida ou o uso continuado. Esse
é o caso, por exemplo, dos alcalóides pirrolizidínicos
altamente hepatotóxicos, encontrados no Confrei.
Um desses compostos, a lasiocarpina, administrada em doses
de apenas 50ppm na dieta de roedores, produziu células
cancerosas nos fígados dos animais (9).
A confiança nos efeitos de cura
das preparações caseiras é inconstante,
o que leva os entrevistados a utilizar medicamentos industrializados
por conta própria ou a procurar orientação
médica. Porém, nem todas as
enfermidades levam os moradores de Ferraz
a fazer uma consulta ao médico. Segundo os entrevistados,
as doenças são divididas em "simples"
e "graves".
As doenças consideradas mais simples
e fáceis de tratar são, muitas vezes, curadas
sem ajuda médica ou com ajuda de farmacêuticos.
Foram registrados 40 casos dessas enfermidades (Figura
2), dos quais 32 (80%) correspondem a afeções
do aparelho respiratório (gripe e tosse) e os 8
(20%) restantes são representados por casos como
catapora e diarréia, entre outros.
Figura 2: Doenças mais simples e tipo de medicamento
utilizado no distrito de Ferraz, município de Rio
Claro, SP.
Desses 40 casos, 10 foram tratados apenas
com remédios caseiros (22%), 18 com remédios
industrializados (45%) e 12 empregando ambos os tipos
de remédios (34%). Assim, mesmo não havendo
farmácia na vila, tem-se que 45% do total de casos
de doenças mais simples foram tratados somente
com remédios industrializados.
A auto medicação foi praticada
em 75% desses episódios de doença. Em várias
ocasiões, o paciente utilizou medicamentos anteriormente
receitados a ele próprio ou a terceiros (parentes
ou amigos). Nenhum caso ficou sem tratamento.
As doenças mais graves ou operações
não são tratadas tão informalmente.
Para esses males, os remédios caseiros são
utilizados somente em conjunto com os industrializados
(Figura 3).
Vê-se que, dos 67 casos registrados,
66 (98,5%) foram tratados com auxílio especializado,
havendo apenas um caso (1,5%) de auto medicação:
dor nas costas, tratada com ambos os tipos de remédio.
As doenças mais graves afetam
principalmente o sistema digestivo (18 casos, 26,8%),
seguido pelo sistema cardiovascular (14 casos, 20,9%).
Figura 3: Doenças mais graves ou operações
e tipo de medicamento utilizado, no distrito de Ferraz,
município de Rio Claro, SP.
Para avaliar a importância relativa
de uma planta quanto ao número de informantes que
a citou e à concordância dos usos citados,
definiu-se sua porcentagem de concordância quanto
aos usos principais (CUP), como apresentada a seguir.
Este procedimento citado na literatura (5), foi modificado,
posteriormente, por outros autores (1):
CUP = NF x FC, onde:
NF = (nível de fidelidade) é
dado pelo número de informantes que citaram os
usos principais (ICUP) sobre o número de informantes
que citaram o uso da espécie (ICUE), multiplicado
por 100.
Assim, NF = ICUP / ICUE x 100.
FC = (fator de correção)
é o número de informantes que citaram a
espécie (ICUE) sobre o número de informantes
que citaram a espécie mais citada (poejo, com 20
citações).
Assim, FC = ICUE / 20.
A Tabela 3 apresenta a porcentagem de concordância
quanto aos usos principais (CUP) das espécies que
foram citadas por mais de 3 informantes.
Tabela 3: Porcentagem de concordância quanto aos
usos principais.

O procedimento utilizado para encontrar
o número de usos principais foi o seguinte: espécie
a usada para curar a doença a = 1 evento, espécie
a + espécie b usadas para curar doença a
= 1 evento
Abreviações: UP = usos
principais, ICUP = no de informantes citando usos principais,
ICUE = no de informantes citando o uso da espécie,
UC = no de usos citados, NF = nível de fidelidade,
FC = fator de correção, CUP = porcentagem
de concordância quanto aos usos principais.
Nota-se que apenas 3 das 20 espécies
citadas, apresentam CUP maior ou igual a 50%, o que provavelmente
esteja indicando a diminuição da popularidade
do uso de plantas medicinais nessa comunidade.
A erva-cidreira, apresentando a CUP mais
alta, é usada, principalmente, como calmante. Essa
utilização não tem relação
com doenças do sistema nervoso, que foram citadas
em apenas 3% dos casos.
Esse comportamento parece estar indicando
que seu uso está ligado mais a dissabores cotidianos,
que escapam da classificação de doença,
que, propriamente, a uma disfunção ou mal.
A concordância quanto aos usos
principais (CUP) obtida por hortelã e poejo, acima
de 50%, explica-se pelo fato de serem essas as plantas
mais usadas para tratar as afeções do sistema
respiratório enquadradas como mais simples, justamente
a categoria de doença em que mais se empregam as
plantas medicinais.
Porém, deve-se considerar que
o tamanho da amostra pode influenciar a CUP. Isso fica
evidenciado quando se observam os valores de nível
de fidelidade apresentados por melissa, goiaba, bálsamo
e rubim, todos de 100%. Essas espécies, entretanto,
mostram CUP abaixo de 50%, uma vez que o fator de correção
utilizado as compara com a planta mais citada. O nível
de fidelidade dessas plantas indica uma forte consistência
cultural de uso.
O oposto é observado no caso do
confrei, que apresenta baixo nível de fidelidade.
No período em que as entrevistas foram realizadas,
essa planta era considerada uma panacéia, sendo
utilizada para o tratamento de várias doenças.
Porém, seus usos só foram coincidentes em
duas ocasiões (Tabela 3).
Os mais velhos mostraram conhecer melhor
os usos terapêuticos das plantas. Em média,
as pessoas com idade até 40 anos citaram 5,4 plantas,
contra 8,6 citadas pelos que têm acima de 40 anos.
Os valores de CUP para as mesmas plantas enfocadas anteriormente,
separadas agora para essas faixas etárias (Tabela
4) evidenciam que, para a maioria dos casos, as citações
dos mais velhos mostram uma maior consistência cultural
de usos: os índices para erva-cidreira, hortelã
e poejo estão bem acima dos anteriormente obtidos,
assim como para o sabugueiro, que apresentou CUP maior
que 50%. Para a faixa até 40 anos, só a
erva-cidreira e a erva-doce obtiveram CUP acima de 50%,
apontando para uma diluição de concordância
de usos.
Também aqui o tamanho da amostra
pode influenciar o índice obtido, já que,
possivelmente, os valores de CUP apresentados poderiam
ser diferentes se mais informantes tivessem sido entrevistados.
Tabela 4: Valores de CUP para as plantas já enfocadas,
segundo as faixas etárias indicadas.
Obs.: Os usos principais foram considerados os mesmos
apresentados na Tabela 6.
CONCLUSÕES
A população enfocada mostrou
conhecer plantas medicinais, seus modos de preparo e utilização,
empregando-as preferencialmente para o tratamento de doenças
consideradas mais simples de tratar. Mesmo assim, nessa
classe de enfermidades, ocorre a maior incidência
de automedicação com medicamentos industrializados.
A posologia, quando da utilização
dos remédios caseiros elaborados à base
de plantas, é praticada, na maioria das vezes,
informalmente, o que pode se tornar perigoso, dada a toxicidade
de algumas plantas.
Os mais velhos citaram 1,6 vezes mais
plantas e a consistência cultural de uso das espécies
citadas por eles é maior que a das citadas pelos
mais jovens.
Os resultados apontam para uma tendência
ao desuso das plantas medicinais pela população
estudada e para a necessidade de sua conscientização
quanto aos perigos do uso indiscriminado de espécies
vegetais. Diante disso, pode-se concluir pela necessidade
do desenvolvimento de campanhas educacionais, que incentivem
a utilização segura dessa alternativa importante
de tratar doenças.
AGRADECIMENTOS
Agradecemos ao CNPq pelo apoio financeiro que possibilitou
a realização deste trabalho; a Valnice T.
Rampin e ao povo de Ferraz que sempre nos acolheu tão
bem.
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ABSTRACT
Popular Medicine in district of Ferraz,
Rio Claro county, São Paulo State. Aiming at recording
how much a population with no immediate access to public
health system uses medicinal plants, which plants are
used and in which disease situations, a survey was carried
out in Ferraz, a district situated 15Km north from county
of Rio Claro. Such district has no hospital, first aid
station or drugstore facilities. The following information
was focused: socio-economic background, plant utilization
and preparation methods, diseases and medical advises.
Information was gathered between February and October
1988, by interviewing people in 30% of the households.
Botanical material was collected, identified and set
down in Herbarium Rioclarense. The population
studied is characterized by low income, a relatively high
proportion of illiteracy and of older people. 70 plant
species were reported for medicinal purposes. Leafs are
the most used plant part and decoction is the main preparation
method. A few people have indicated specific dosage. Self-medication
is very common in the case of trivial diseases, mostly
using medicinal plants and industrialized remedies as
well. The situation is otherwise in the case of serious
illnesses or surgical procedures, where a doctor is always
consulted. Ferraz population has shown to hold some knowledge
about medicinal plants, especially among older people.
But this research suggests that the knowledge is falling
out of use and it follows that education efforts are needed
to show this people how to safety use medicinal plants.
Key words: Ethnobotany; medicinal plants; phytotherapy.
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