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O ESTRUTURALISMO NA ECOLOGIA DA PAISAGEM *
Carlos H. Saito 1
1 Departamento de Ecologia - Universidade de Brasília
DF
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RESUMO
Busca-se melhor compreensão dos
limites e possibilidades da Ecologia da Paisagem como
abordagem para estudos ambientais por meio da identificação
de seus pressupostos filosóficos. A repetição
de termos como "estruturas", "funções",
"elementos" e "relações"
nos trabalhos em Ecologia da Paisagem remete ao estruturalismo,
cujo estudo teórico contribui para esclarecê-la
e reforçar a idéia de haver um vínculo,
entre a pesquisa particular e modos explicativos mais
amplos, bem como entre metodologia e filosofia - consciente,
ou inconscientemente. Cinco problemas são elencados
para reflexão do fazer científico neste
campo, de modo a confrontar a teoria com a realidade e
demonstrar as limitações de uma modelagem
rigidamente estruturada da natureza: "escalas e hierarquias",
"interesses na modelagem", "competição
entre fragmentos", "dinamismo e conservacionismo"
e "gradientes". Conclui-se pela necessidade
de uma concepção mais dinâmica e complexa
da natureza em substituição a modelos rígidos,
estruturados, que tentam fazer universais aqueles critérios
restritos de análise do ambiente. Assim procedendo,
o processo de modelagem do real passa a refletir a interação
sujeito-objeto mediado pelos interesses da investigação
e possibilita uma representação melhor da
realidade, ao invés de conformá-la em esquemas
pré-definidos e externos à problemática
em questão.
Palavras chave: Ecologia da Paisagem; Estruturalismo;
Filosofia da Ciência.
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"Segundo que categorias pensamos nós hoje?
Segundo as categorias de uma teoria fecunda? Ou segundo
as categorias de um ‘bom senso’, herdeiro,
sem dúvida, do que foi uma invenção
teórica audaciosa, mas (que), instruída
como ‘verdadeira’, distribuiria doravante
nossas evidências e nossas cegueiras?" (Isabelle
Stengers)
INTRODUÇÃO
O presente trabalho tem como objetivo
tornar explícita e analisar a base conceitual e
filosófica da abordagem geoecológica nos
estudos ambientais contemporâneos.
Tal proposta torna-se necessária
em decorrência de estar a Ecologia da Paisagem,
denominada em inglês como "Landscape Ecology",
recebendo grande aceitação nos meios científicos,
como uma substituição ou avanço em
relação à abordagem
ecossistêmica sem, porém, apresentar uma
matriz conceitual sólida e homogênea. É
tarefa do pesquisador não só aprimorar o
conhecimento específico de seu campo do saber,
mas também tomar consciência das implicações
de sua formulação como um modelo explicativo
tanto do particular como do universal.
"O pesquisador que se ocupa de esclarecer
um problema (...) de extrema particularidade está
ao mesmo tempo contribuindo para a constituição
do pensamento teórico que se destina a explicar
a totalidade do universo. Inversamente, os pensadores,
(...) ao intentar racionalizar o conjunto da realidade,
(...) estão igualmente compondo um sistema lógico
de pensamento que resultará, por decorrência
e como efeito de sua aplicação a problemas
concretos, uma metodologia da investigação
empírica. Não é admissível,
portanto, a desvinculação e o desconhecimento
recíproco, entre o homem de ciência e pensador
filosófico, pois um não existiria sem o
outro" (16).
Além disso, quando o pesquisador
faz ciência, com suas justificativas a respeito
de seu trabalho e seus procedimentos investigatórios,
estará mesmo que inconscientemente, remetendo-se
a um sistema filosófico de caráter geral
(19). Em virtude do fato de que a lógica, enquanto
mediadora entre o sistema filosófico e a pesquisa
científica, fazer-se sempre presente nos atos investigatórios
de qualquer natureza (16).
Tendo em vista o tratamento sistêmico
dado ao meio ambiente pela Ecologia da Paisagem, visto
enquanto um mosaico de elementos interrelacionados, cujas
preocupações centrais podem ser definidas
por estruturas, funções, hierarquias e escalas,
é possível identificar uma influência
do modelo estrutural de investigação do
real neste campo do conhecimento.
ESTRUTURALISMO E ESTRUTRAS
Apesar de serem reconhecidas várias
modalidades de estruturalismo, o que existe de comum em
todas elas, é o esforço de "descobrir,
por trás das aparências, além da organização
aparente do objeto, estruturas inteligíveis que
expliquem certo funcionamento" (7). Este mesmo autor
afirma, ainda: "mesmo diante de um objeto limitado,
não existe estruturalismo sem a pretensão
de superar uma simples descrição da materialidade
do fenômeno. O estruturalismo é profundamente
procura de inteligibilidade" (7).
É, pois, elucidativa a afirmação
de Boudon, citado por Lepargneur, de que "a descrição
estrutural opõe-se à descrição
fenomenal, como a essência à aparência"
(7). Portanto, o estruturalismo surge como uma superação
da mera descrição do objeto (paisagem),
em virtude da exigência de compreendê-lo como
ocorrências categorizadas reconhecíveis em
outras circunstâncias temporo-espaciais.
Esta categorização leva
a uma simplificação no processo descritivo
do objeto, de modo a apreender-lhe, somente, aqueles caracteres
considerados "típicos" e que permitem
configurar um modelo deste objeto. Cria-se, desta forma,
um sistema hipotético dedutivo capaz de ser submetido
à verificação em que não só
o objeto é explicado em função de
sua dinâmica interior, tendo em vista as interações
entre as partes, como as próprias partes (agora
objetos) podem ser entendidas por meio da sua relação
com o conjunto.
Cabe ressaltar, também, que para
o estruturalismo, uma vez que o objeto é explicado
pelo conjunto de elementos distinguíveis que o
compõe e sua inter-relação, ou seja,
em termos de lógica interna do sistema, cada objeto
ou sistema apresenta características próprias
que o definem, não existe uma transformação
gradual de um sistema para outro mas apenas transformações
revolucionárias (catastróficas).
Em outras palavras, "o estruturalismo
é teoria ou compreensão da descontinuidade
do mundo, como o historicismo ou evolucionismo pretendiam
ser teorias ou compreensão da continuidade do fenômeno,
ou melhor, do fenômeno como continuidade" (7).
A categoria de análise fundamental
do estruturalismo é a Estrutura, que pode ser conceituada
como um conjunto de elementos interrelacionados, de tal
sorte, que mudanças em um dos elementos, ou em
um dos relacionamentos, acarretam modificação
de todo o conjunto, ou seja, dos demais elementos e relações.
Pode-se, desta forma, afirmar que "a estrutura é
a concretização de certas leis que procuram
e mantém certo equilíbrio num conjunto"
(7).
Um desdobramento deste enunciado é
que a compreensão de uma estrutura deve ser baseada
em seu próprio interior e jamais na relação
externa de uma estrutura com outra estrutura, ou seja,
traz em si um postulado de que "a estrutura se basta
a si própria e não requer, para ser apreendida,
o recurso a todas as espécies de elementos estranhos
à sua natureza" (14).
As estruturas possuem quatro atributos:
totalidade; disposição; solidariedade; e
auto-regulação. Pelo atributo de totalidade
entende-se a estrutura como um conjunto com identidade
e características próprias, maior que a
simples soma das características das partes. A
disposição indica a composição
da estrutura por partes que se organizam segundo uma posição
espacial e funcional, claramente identificável
e passível de descrição. O terceiro
atributo aponta para a existência de uma interdependência
entre estas partes, cada qual contribuindo complementarmente,
para a consecução dos objetivos gerais da
estrutura. Finalmente, a auto-regulação
assegura a conservação do sistema, defendendo-o
contra a ação de forças externas
perturbadoras, por meio de processos regulatórios
de retroalimentação e tamponamento. A noção
de estrutura, construída dentro da visão
sistêmica, aparece então como, logicamente,
inteligível e, extremamente atraente.
Estas qualidades, no entanto, não
devem ser valorizadas, a tal ponto, que se faça
acreditar que as estruturas existam nos objetos de pesquisa
em si e definir o homem como os "caçadores
da estrutura perdida". Na outra extremidade, pode
surgir a crença na primazia não da realidade,
mas da subjetividade, fazendo-se acreditar, desta vez,
ser a razão capaz de, sozinha, "pensar"
ou "definir" a estrutura que existe nos objetos.
Nesta situação, "a operação
estruturalista o mais das vezes (...), ao invés
de achar a estrutura, estabelece-a, inventa-a como hipótese
e modelo teórico e postula que todos os fenômenos
devem corresponder ao arranjo estrutural teorizado"
(3). Ou seja, ao invés de dar "forma"
à realidade, conforma-a. Em ambos os casos, separa-se
sujeito e objeto, atribuindo racionalidade ora a um, ora
a outro.
O que pode ser, então, uma estrutura
? Segundo a literatura, "uma estrutura é um
modelo construído segundo certas operações
simplificadoras que (...) permitem uniformar fenômenos
diferentes com base num único ponto de vista"
(3). Em consequência, pode-se dizer que "o
escopo da atividade estruturalista (ao nível científico)
é construir um objeto, que nada mais é,
pois, que um simulacro teórico de um ou vários
objetos reais. O estruturalismo fabrica um mundo semelhante
àquele de que partiu para torná-lo inteligível"
(3).
Ou seja, depende do objeto e do sujeito
da investigação, emergindo desta interação.
Como qualquer modelo que simplifica e busca unidade na
diversidade dos fenômenos, uma estrutura é,
primeiramente, um sistema de diferenças (3), como
um sistema de correlações abstraíveis,
ganhando operacionalidade pelo fato de, nestas condições
(modelo abstrato), poder ser aplicado a fenômenos
diferentes. Assim, "só será estruturada
a disposição que obedece a duas condições:
é preciso que ela seja um sistema regido por coesão
interna; é preciso que tal coesão, inacessível
à observação de um sistema isolado,
se revele no estudo das transformações,
graças às quais encontramos propriedades
similares em sistemas aparentemente diferentes" (3).
Necessita-se neste momento, apontar a
existência de objetos estruturados e de modelos
estruturais transponíveis, como dois conceitos
distintos, estando, porém, intimamente articulados
pelo método indutivo e, no caso da Ecologia da
Paisagem, os diferentes autores utilizam-se de ambos os
conceitos em suas proposições científicas.
A generalização dos objetos estruturados
particulares é que leva aos modelos estruturais
transponíveis. Pode-se julgar o modelo como um
instrumento de pensamento útil e necessário,
enquanto nos permite "pensar sobre coisas não
familiares em termos de coisas familiares", segundo
Bridgman apud (3). Mas, conhecer seus pressupostos é
importante para saber avaliar seus potenciais e suas limitações.
O primeiro pressuposto de um modelo estrutural
transponível é sua universalidade. Estudos
alertam que "os modelos, elaborados como universais,
funcionam universalmente porque foram construídos
para funcionarem universalmente" (3).
O segundo pressuposto deste modelo é
a sua perenidade, ou seja, que o modelo seja "uma
coisa preexistente e ao mesmo tempo, uma morfologia geral"
(3) e, dentro desta visão, o estruturalismo incorpora
e pode confundir-se com o mecanicismo conservador.
O terceiro pressuposto é a exclusividade,
ou seja, busca-se, na modelagem, encontrar a essência
do objeto, acreditando-se, daí, que o modelo construído
é a única forma de explicar a realidade.
Não se costuma cogitar, no entanto, que aquele
modelo foi construído porque se decidiu "investigar
um campo de fenômenos usando determinado critério
de pertinência, e portanto, com base em determinado
ponto de vista, que já implicava como preferenciais
certas operações e certos resultados"
(3).
Estes três pressupostos acabam
por conferir ao estruturalismo a aparência formal
de independência da relação sujeito-objeto
(moldando-se, então, à metafísica)
e sua adoção acrítica como meta-modelo
nas pesquisas científicas pode levar a conclusões
equivocadas ou conflituosas. São estes riscos que
pretendemos analisar neste trabalho.
ESTRUTURALISMO E ECOLOGIA DA PAISAGEM
Com base nesta discussão teórica
preliminar, acredita-se que se pode melhor compreender
como os diferentes pesquisadores em Ecologia da Paisagem,
pela sua conceituação de Paisagem e problemas
metodológicos em pesquisa ambiental elencados,
vêem o processo de construção de modelo
e quais conceitos conscientes e/ou inconscientes de estrutura
permeiam sua produção científica.
Em geral, a paisagem (landscape) é
conceituada como sendo uma unidade geográfica discreteada
como um mosaico de elementos definidos a priori, correspondendo
a uma visão estática da estrutura, conforme
os pressupostos de universalidade, perenidade e exclusividade
anteriormente mencionados.
A paisagem pode ser definida como "uma
área de terra heterogênea composta de um
aglomerado de ecossistemas em interação
que é repetida de forma semelhante em toda a sua
extensão" (4), sendo os ecossistemas entidades
homogêneas conhecidas como campo, bosque, lago,
estrada, que podem receber outras denominações
tais como ecotopo, biotopo (9) ou geotopo (5), que, em
suma, representam elementos da paisagem e seus componentes
básicos. Semelhante conceituação
foi citada determinando uma forte correspondência
com o modelo estrutural transponível já
discutido. Inclusive, para esta última, a estrutura
é a primeira das três características
a considerar-se na paisagem ,as outras duas são
função e mudança (22).
Embora haja menção a estudos
de paisagem em escalas regionais com características
heterogêneas, segundo uma abordagem ecossistêmica,
infelizmente os autores abandonam a discussão que
levaria a uma teoria relativista do ecossistema e, por
conseguinte, a uma melhor compreensão conceitual
de modelos, reafirmando uma visão simplificadora
e estruturalista da paisagem (4).
Outro autor explicita o vínculo
entre Ecologia da Paisagem e o Estruturalismo ao afirmar:
"De grande significado é a necessidade da
investigação efetuar uma classificação
inteligente de tal maneira a facilitar a formação
de subdivisões a partir de uma variedade extraordinariamente
grande, que são usualmente de pequeno tamanho,
facilmente investigados e identificados, e capazes de
uma caracterização inambígua. O estruturalismo
alcançou isto por meio da derivação
de unidades topológicas básicas a partir
de fatores naturais dominantes muitas vezes mensuráveis"
(9).
Determinadas posições merecem
ser lembradas, como raras exceções, ao assinalar
diversas possibilidades de se "dividir" um ecossistema
florestal em elementos de análise:
"(...) para um problema fisiológico,
pode-se dividir o sistema em folhas, tronco e raízes.
Esta divisão permite ao pesquisador enfatizar as
diferenças na função entre as variáveis
estabelecidas. Para um outro problema, pode-se escolher
uma subdivisão mais estrutural em dossel, abaixo
deste, herbáceo e subterrâneo. Esta divisão
enfatiza diferentes
estratégias de espécies
dentro do sistema. Para um problema que lida com composição
de espécies, pode-se escolher uma subdivisão
taxonômica que capture a identidade das espécies
ou grupos de espécies. Qualquer uma destas subdivisões
seria útil para uma classe particular de problemas
e nenhuma divisão singular sobressai como fundamental"
(10).
Outro autor que destaca a intencionalidade
no processo de identificação de unidades
naturais, ao afirmar que "a fronteira desenhada entre
duas unidades é pura estratégia intelectual
usada para conveniência de certas informações.
O mesmo se sustenta como verdadeiro para todas as fronteiras
em qualquer nível de classificação.
A estrutura espacial dinâmica é convertida
em estrutura estática para propósito cartográfico"
(5). No entanto, ele considera a existência de unidades
fundamentais chamadas geótopos, sendo arrastado
para um formalismo estrutural, tal qual outros autores
(4), conforme visto anteriormente
.
Este julgamento é válido,
mesmo considerando-se o fato de apresentar-se a discussão
sobre escalas espacial e temporal (4), assim como o fazem
outros autores (17, 20), trazendo à tona uma preocupação
meramente estrutural, distinguindo elementos visíveis
em diferentes escalas, esquecendo-se de que os elementos
tornam-se visíveis à razão em virtude
de interesses pré-definidos e não sendo,
portanto, invariantes.
" A paisagem, com sua heterogeneidade
e mecanismos causativos, seria o único nível
distinto reconhecível numa escala espacial"
(4). Este caráter único da paisagem vem
como decorrência da busca de um modelo genérico,
aplicável a qualquer circunstância, como
concluiu estes autores ao dizerem que "o difícil
teste da utilidade da ecologia da paisagem é ver
se é possível encontrar padrões gerais
que forneçam a capacidade preditiva e sejam aplicáveis
a qualquer paisagem".
De forma semelhante, foi citado que "a
estrutura da paisagem deve ser identificada e quantificada
de tal forma que as interações entre os
padrões de paisagem e os processos ecológicos
possam ser entendidos" (22). Estes padrões
circunscrevem-se no nível do visível (não
se cogitando quais interesses guiaram esta busca): tamanho
e diversidade de fragmentos distinguíveis, contraste,
controles geomorfológicos, corredores, disposição
espacial dos fragmentos (elementos) - se regular, agregado,
linear, paralelo ou comunicantes, apresentando ligações
espaciais internas, quantidade de bordas, ou interfaces
entre elementos e matriz de fundo (3, 22). Enfim, apesar
das diferenças entre si, os autores afirmam que
as paisagens compartilham uma estrutura fundamental composta
de "fragmentos, corredores e uma matriz de fundo"
(3).
A posição estrutural torna-se
ainda mais visível ao passar-se para o nível
imediatamente inferior de análise, detalhando-se
cada um destes componentes estruturais: " Tamanho,
forma e a natureza do divisor são características
particularmente importantes dos fragmentos. Características
de corredores tais como largura, conectividade, curvilinearidade,
comprimento, interrupções e nós controlam
as funções importantes de condução
e barreira de um corredor" (3).
ESTRUTURA E FUNÇÃO
Dentro desta visão estruturalista
da paisagem, todo o sistema é descrito em virtude
dos elementos que o compõe e as funções
inerentes a ele são identificadas, a partir destes
elementos. Em decorrência, fala-se em função
interna da paisagem conforme se segue.
a) Função de fronteira
(borda) para os divisores
Os diferentes elementos, ao serem distinguidos
entre si, apontariam para a existência de uma função
para as suas zonas de contato, de caráter limítrofe,
que segregariam e confinariam muitas espécies em
um dos lados. A segregação é vista
quase como "natural" - a ordem -, ao passo que
a transposição é vista como uma excepcionalidade
devido à maior capacidade adaptativa destas espécies
- a desordem -, decorrendo desta dualidade a emergência
do conceito de "filtros".
Ilustra-se, então, esta construção
teórica com passagens de diversos autores em estudos
de Ecologia da Paisagem: " a porção
limítrofe de um elemento de paisagem funciona como
uma membrana semipermeável, filtrando os fluxos
para dentro e para fora do elemento" (3).
" Como membros (da estrutura), as
bordas variam em sua permeabilidade ou resistência
a fluxos" (24).
" A taxa de propagação
da perturbação deve ser diretamente proporcional
à heterogeneidade da paisagem, para propagação
entre comunidades, mas inversamente proporcional para
perturbação cuja propagação
seja contida dentro da mesma comunidade" (22).
b) Função de condução
e barreira para os corredores
Os "corredores" teriam dupla
função na paisagem, de facilitador ou inibidor
da movimentação de indivíduos (3),
chegando inclusive a ser determinantes para as chances
de permanência de uma população na
comunidade, em virtude de afetar as taxas de migração
e, em decorrência, o grau de isolamento populacional
naquela paisagem.
Concorrem para este tipo de entendimento
os estudos de Biogeografia de ilhas (2), nos quais se
apoia T em outro autor para afirmar que "como a sobrevivência
das populações numa paisagem depende da
taxa de extinção local (no fragmento) e
também na taxa de deslocamento individual entre
fragmentos, espécies em fragmentos isolados devem
ter probabilidade menor de persistência" (22).
Dentro desta concepção, chega-se a distinguir
e até inverter funções em virtude
da forma desses elementos-tipo, como por exemplo a largura
e a integridade dos corredores (Figura 1).
.
Figura 1. Efeito da largura do corredor e das interrupções
para o movimento no interior da paisagem. As áreas
sombreadas indicam condições inibitórias
ao movimento e enfatizam a importância crítica
das áreas de interrupção. Fonte (4).
c) Fragmentos repositórios ou
dispersores de substâncias
A distinção de elementos
discretos componentes da paisagem é justificada
pelas diferenças na composição interna
de espécies e/ou matéria física.
Surge então a idéia de que estes elementos
serviriam como centros de "refúgio" ou
de "depósito" de espécies, a partir
dos quais se irradiariam para colonizar novas áreas.
Da mesma forma, e em estreita associação
com as espécies ali existentes, diferentes substâncias
(nutrientes, água e outras) concentrar-se-iam diferenciadamente.
Duas passagens ilustrativas deste modo de pensar são
transcritas abaixo:
"onde elementos de paisagem adjacentes
diferem em seu grau de maturidade, aquele em estádio
mais jovem pode funcionar como uma fonte que irradia coisas
(sal, nutrientes) e aquele em estádio mais adiantado
pode funcionar como um depósito que absorve coisas"
(4).
"As características da qualidade
da água podem variar com a posição
de um lago na paisagem, como demonstrado na zona Alpina
do Colorado e nas florestas de Wisconsin. Lagos mais baixos
na paisagem tiveram uma maior condutância específica
porque seus suprimentos de água do lençol
ou superfície passaram por mais vegetação
e solos, acumulando maior concentração de
material dissolvido" (24).
Em todos estes casos, percebe-se clara
a subordinação dos processos aos elementos
ou, dito de outra forma, das funções à
estrutura. Pode-se, neste caso, dizer que a estrutura
antecede a função e a segunda só
existe por causa da primeira. Não há nenhuma
função que não esteja vinculada à
estrutura e, assim, não se pode pensar em função
que transcenda aos elementos da estrutura proposta.
ESTRUTURAS COMO MODELOS - PROBLEMAS
ELENCADOS
O estruturalismo, na verdade, cria modelos
com base em elementos identificados, segundo um critério
racional tido como neutro e natural, e procura aprisionar
a realidade nesta forma, atribuindo-lhe posteriormente
funções animadas a partir dessa configuração
estrutural. Neste processo de enquadramento, alguns problemas
emergem, já mencionados anteriormente, mas é
capital que os retomemos e nos aprofundemos em sua compreensão.
Escalas e Hierarquias
O primeiro destes problemas refere-se
à hierarquia de análise (escalas). Na verdade,
em virtude do problema a ser investigado, diferentes escalas
de tempo e espaço são requeridos, para se
obter uma adequada apreensão do fenômeno.
É o grau de refinamento do modelo em construção
que reflete o nível de abstração
da realidade.
Porém, "enquanto a maioria
dos ecólogos concordam que os sistemas ambientais
são multi-escalares, alguns ainda intentam reduzir
tudo da ecologia a níveis fundamentais tais como
população ou ecossistema" (10). Mudando
a escala, mudam os elementos da paisagem reconhecíveis,
alterando a percepção de heterogeneidade
e granulação (4), assim como alteram-se
as funções das variáveis consideradas.
Schumm & Lichty (20), refletindo
sobre o método de análise de um processo
erosivo numa bacia de drenagem hipotética, elencando
dez variáveis (tempo, relevo inicial, geologia,
clima, vegetação, volume do sistema acima
do
nível de base, escoamento e sedimentação
por unidade de área, morfologia da rede de drenagem,
morfologia das vertentes, e descarga de água e
sedimento do sistema), e classificando-as em independente
e dependente em três períodos distintos de
tempo de análise, afirmam: que "algumas das
variáveis que são dependentes durante o
longo período de erosão progressiva tornam-se
independentes durante o curto período de tempo
equilibrado" (20).
Certamente, há uma relação
entre a escala temporal e espacial, pois a condição
de estado de estabilidade, denotando curto espaço
de tempo, não pode ser aplicada em toda a extensão
da bacia de drenagem, conforme estes autores (20). Fica
então bastante claro que, tratando-se de escalas
diferentes, tem-se de fato modelos e estruturas também
diferentes, com propriedades distintas que não
se comparam à soma das propriedades dos elementos
na escala inferior. Pode-se, portanto, afirmar que existem
propriedades emergentes em cada nível hierárquico
de análise proposto. Para determinado autor (5),
o foco de investigação varia com a escala
de abrangência centrando-se no entendimento do ecossistema
(em nível local) ou nas interações
locacionais (em nível regional). Sob este aspecto
ainda se afirmou (22): "A complexidade da paisagem
mostrou não ser constante em um amplo intervalo
de escalas espaciais (isto é, não tem auto-similaridade).
Essa ausência de constância refletiria os
efeitos dos processos que operam em diferentes escalas".
Um ponto crucial, portanto, é
a articulação entre as diferentes escalas,
de modo que o conhecimento de um fenômeno em um
nível de abstração (por exemplo o
nível inferior hierarquicamente), possa contribuir
para o entendimento de um fenômeno mais globalizante.
Sabe-se de antemão que esta articulação
não se dá de forma direta, porém
"uma explicação mecanicista geralmente
dá a entender que um fenômeno é conseqüência
lógica dos comportamentos e interações
das entidades de nível inferior" (10). É
o que se depreende do estruturalismo (14, 23), se apontou
a propriedade de auto-regulação como conservação
e fechamento da estrutura.
Apresentando uma visão mais relativista,
apoiado nos estudos sobre os processos ambientais, um
autor (10) afirmou que "as dinâmicas do nível
superior geralmente aparecem como variáveis constantes
ou diretivas no modelo de nível 0. O comportamento
do nível 0 aparece sendo restringido, limitado
e controlado pelo nível superior".
Mais ainda, "as dinâmicas
dos níveis superiores são mais abrangentes
e muito mais lentas no tempo que no nível de interesse
(nível 0). Portanto, dentro de um período
normal de observação, o nível superior
parece ser constante" (10), ao passo que a dinâmica
nos níveis inferiores são em escala reduzida
de ação e ocorrem em unidades de tempo muito
mais curtas, ou seja, apresentam dinâmicas mais
velozes. Desta forma, pode-se dizer que, uma vez que os
elementos de uma paisagem variam conforme a escala, fica
claro que não existe uma única descrição
da paisagem.
Dinamismo e Conservacionismo
Um segundo problema refere-se ao congelamento
que a estrutura impõe ao fenômeno, ou seja,
torna-o a-histórico, não levando em conta
a própria transformação da estrutura.
Para isto, contribui a definição
da função de controle (auto-regulação,
"feed-back") dos sistemas estruturados que atuam
para amortecer ou reverter os efeitos e as ações
desagregadoras deste sistema. Esses sistemas "rígidos"
foram denominados de "modelos estruturais endodinâmicos"
em oposição aos "modelos de transformação
dinâmica" (10), que, embora reconhecendo a
necessidade de uma modelagem dinâmica, aponta para
a dificuldade de construí-la,
por se exigirem novas regras de formação.
Para este autor, um modelo de paisagem ecológica
deveria contemplar ambos os aspectos.
Assim, em virtude das dificuldades e/ou
falta de clareza conceitual, os modelos conservativos
prevalecem e, ao atribuir-se-lhes uma essência atemporal,
acabam por desabilitar-se da função cognoscitiva
a que se propunham. Nesses modelos atemporais, não
se pode representar a própria evolução
do objeto - sua transformação ao longo do
tempo. Excluem-se desta forma os processos de sucessão
ecológica em curso (11) e as mudanças de
comunidade em tempos geológicos tais como a dinâmica
de expansão e recuo diferenciados de população
de plantas C4 (gramíneas) e C3 (lenhosas) durante
e após a última glaciação,
respectivamente(21).
Os interesses na modelagem
Um terceiro problema refere-se ao critério
norteador da definição das estruturas, já
mencionado anteriormente. Na literatura, autores afirmam
que: "muitos animais requerem dois ou mais elementos
de paisagem para viver" (4), o que significa que,
em um estudo sobre o modo de vida destas espécies,
os territórios ou sítios de dormida, forrageamento
e acasalamento seriam "estruturalmente" mais
relevantes para fins de discretização, do
que eventuais elementos de paisagem visíveis ao
olho humano. É sempre bom lembrar que a forma de
localização, orientação e
definição espacial adotada pelos indivíduos
de uma espécie se relacionam com suas formas perceptivas,
fundadas em diferentes morfo-fisiologias sensório-motoras.
Outro exemplo ilustrativo é a
discussão que se vem travando em torno da proteção
da biodiversidade ou do ecossistema do cerrado brasileiro.
Normalmente, classifica-se este ambiente, tendo em vista
as formas visíveis, em campo sujo, cerrado e cerradão,
inclusive alguns atribuindo esta diferenciação
ao fato de encontrarem-se em estádio inicial,
intermediário e final de sucessão
ecológica, respectivamente. Neste caso, ocorrendo
a evolução do ambiente sem interrupções,
todo o conjunto tenderia a tornar-se "homogêneo".
Porém, o cerrado convive com a presença
do fogo como elemento perturbador deste processo sucessório
há milhares de anos e a adaptação
ao fogo apresentada por diferentes espécies da
flora do cerrado confirma a longa convivência e
a qualificação do fogo como um importante
fator ecológico na região (1,13). Nestas
circunstâncias, o mosaico de campo sujo, cerrado
e cerradão seria, para muitos, uma forma imperfeita
e inacabada da constituição do cerrado.
Mas será esta a interpretação correta,
ou não seria o cerrado justamente este mosaico
adaptado ao fogo? Ao se falar em preservar o cerrado,
existirá interesse protecionista em relação
somente às espécies existentes no chamado
"estádio final", ou se incluirá
a grande diversidade presente nas diferentes "formações
aparentes" ?
Finalmente, cabe lembrar que, ao se tratar
a paisagem como um espaço constituído e
construído socialmente, fica ainda mais gritante
a relatividade dos limites e estruturas do objeto, pois
o objeto de estudo pode vir a ser delimitado, não
com base em alguma característica física,
mas em função de atividades societárias.
Novamente, reforça-se a idéia de que uma
estrutura é definida segundo os interesses de quem
a define e não que ela exista por si só
no real à espera de ser corretamente reconhecida.
Competição entre fragmentos
Dentro do modelo estrutural de paisagem,
cria-se uma imagem de cooperação harmônica
entre os seus elementos componentes, cada qual contribuindo
com uma função para a manutenção
do complexo sistêmico - o "todo organizado".
Porém, a dinâmica dos processos
na natureza pode apontar para outro tipo de interpretação
das relações entre estes elementos, que
signifique não uma cooperação, mas
uma competição entre eles. É neste
sentido que se pode analisar o movimento das dunas em
uma região litorânea, "engolindo"
outros elementos adjacentes; a expansão das áreas
desertificadas em regiões agrícolas; a erosão
das áreas costeiras pelo mar; e também os
conflitos entre a mancha urbana e a vegetação
circunvizinha decorrentes da expansão da primeira.
Da mesma forma, esta disputa territorial
pode ser identificada no nível biótico,
por exemplo, pela competição entre a mata
nativa e o capim-colonião e entre o campo cultivado
e as chamadas "plantas invasoras". Mais precisamente,
observamos na natureza a ocorrência de superposição
de nichos ecológicos (6,12,15), que ao acarretarem
uma competição interespecífica, podem
resultar numa alteração dinâmica da
distribuição populacional das espécies
envolvidas, em função das variações
nas condições ambientais. Este processo
competitivo faz parte, portanto, de um processo mais amplo
de "evolução" do "ecossistema",
que pode ter repercussões nas interações
entre estes "ecossistemas" componentes da "paisagem".
Gradientes
Um último problema a ser elencado
é o fato de que, ao buscar-se a identificação
de elementos na modelagem estruturada da paisagem, pressupõe-se
a existência de fronteiras discreteadas, ou seja,
a ocorrência de uma descontinuidade espacial entre
os elementos naturais. Esta discretização
pode ser obtida por artifício de escala, ou seja,
aumentando-se a escala e, portanto, distanciando-se dos
processos imediatos, tem-se a impressão de que
os elementos são distinguíveis na paisagem.
A intervenção humana, também, é
capaz de produzir descontinuidades abruptas na paisagem.
Porém, excetuando-se as ações antrópicas,
esta discretização inexiste na natureza,
havendo entre o que se postula como
elementos da paisagem todo um contínuo
de transição, cujo limite é indistinguível.
Mesmo na fronteira entre o mar e a praia ou entre o rio
e suas margens, como alguém poderia lembrar, não
existe descontinuidade, pois os limites apresentam oscilação,
tendo em vista as marés e as variações
na vazão fluvial, produzindo um ambiente de transição
nesta faixa de variação.
Novamente, deve-se lembrar que o processo
de modelagem realiza uma simplificação do
objeto, processo este que opera primeiramente na discretização
das partes componentes, estabelecendo um divisor arbitrário
entre eles. Não havendo então a descontinuidade,
inexistirão também os fragmentos, e os processos
a eles associados passarão a ser doravante questionados.
O reconhecimento de gradientes provavelmente é
mais adequado à forma perceptiva do espaço
por animais e vegetais, permitindo fornecer uma compreensão
mais apurada de alguns fenômenos naturais tais como
a propagação de perturbação
no interior dos fragmentos de vegetação
criados pelo homem - as áreas de proteção
da vida silvestre.
CONCLUSÃO
Como foi exposto ao longo deste trabalho,
existem diversas implicações negativas na
adoção de modelos estruturados na pesquisa
ambiental de modo geral, e na Ecologia da Paisagem em
particular. A crítica apresentada aqui não
pretende ser uma negação dos esforços
realizados pelos pesquisadores citados, nem tampouco daqueles
que seguem seus passos. Propõe-se apenas a servir
de alerta para:
1) que os cientistas tenham consciência
das implicações de suas formulações
específicas no modo de explicar o mundo, ou seja,
a vinculação entre ciência e filosofia
(16).;
2) que, ao formularem modelos estruturados
da paisagem, tenham consciência das limitações
deste;
3) que o conceito de sistema subjacente
ao estruturalismo possa ser empregado de forma adequada,
enquanto uma atividade racional humana e, portanto, subjetiva,
para enfrentar um problema particular;
4) que, como atividade racional, a estrutura
deve ser relativizada, e não tomada como essência,
em oposição à aparência.
A abordagem estrutural dogmática,
tal como muitas vezes tem sido empregada nas ciências
ambientais em geral, e na ecologia da paisagem em particular,
conforme mostrado ao longo deste trabalho, foi responsável
por inúmeras intervenções humanas
desastrosas na natureza. No entanto, enquanto uma forma
sistêmica de leitura da realidade, representa uma
linguagem de representação que permite ao
homem não só descrever como prever o comportamento
da realidade, por exemplo, através de simulações
(22). Deve-se lembrar, neste caso, que tal operação
produz resultados válidos dentro de uma concepção
de relação homem-natureza baseada no interesse
do controle e da dominação do primeiro sobre
o segundo (explicitados no passado por Bacon e Descartes),
que se traduzem na cultura contemporânea pelo termo
"gestão".
Provavelmente, esta forma de representar
o real - as estruturas visíveis - tem sido largamente
empregada por apresentar uma forte correspondência
com a estratégia adaptativa da espécie humana
para percepção do meio circundante: a visão
binocular como mecanismo sensorial principal, sobrepondo-se
em termos de acuidade e utilização aos demais,
tais como a audição e o olfato, que poderiam
fornecer uma outra percepção do espaço.
Mesmo a visão foi desenvolvida de maneira a captar
o ambiente de forma distorcida, pois não se pode
ser capaz de perceber os diferentes comprimentos de onda
isoladamente e em gradação – confunde-se
as "cores" do espectro para se enxergar o "branco"
ou se juntar a luz "verde" e a luz "vermelha"
para poder-se enxergar o "amarelo".
Portanto, é chegado o momento
de se tomar consciência de que o fazer científico
por uma assimilação crítica dos pressupostos
teóricos e metodológicos daquela chamada
"ciência normal" - para utilizar a expressão
de Kuhn (6). Modelos podem ser utilizados para transpor
uma compreensão aproximada dos fenômenos
para um número maior de casos. Porém, é
preciso, antes de tudo, ter clareza de que são
apenas modelos, e não a realidade. E que os modelos
são relativos, frutos de critérios racionais
e valorados. Não se pode continuar mais, em nome
dos modelos - os compromissos com a teoria científica
hegemônica - violar a realidade ou seja, a natureza.
Parafraseando um autor (3), busca-se
a estrutura inexistente. Não existe a estrutura,
como há afirmação na literatura (8)
que se deve buscar pelo estruturalismo; existem estruturas
convenientes para cada objetivo proposto. Encontra-se
nesta perspectiva a contribuição que O’Neill
(10) tentando trazer a todos. É preciso, uma vez
mais, frisar que não se está condenando
aqui o processo de estruturação da realidade
com vistas a conhecê-la (inerente a todo esforço
racional), mas sim estabelecer uma diferença entre
a estruturação, enquanto processo e a cristalização
de estruturas, nas quais se conforma, sempre, a natureza.
É a única forma possível , quaisquer
que sejam os objetivos de investigação (10).
Finalizando, é preciso fazer ciência
não apenas por si mas para si (16), subjugando
o formalismo por meio da dialética, de modo a trazer
para o primeiro plano a categoria de totalidade, no processo
de produção do conhecimento científico
(18). Somente assim, pode ser resgatado o verdadeiro caráter
da ciência, como produção social que
decorre da interação entre o pensar e o
ser, entre o sujeito e o objeto, entre o homem e a natureza.
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ABSTRACT
Structuralism in Landscape Ecology. The
search a better comprehension of limits and possibilities
of the Landscape Ecology as an approach for environmental
studies through the identification of its philosophical
assumptions. The repetition of terms such as "structures",
"functions", "elements" and "relations"
on the Landscape Ecology articles points out to the structuralism,
which its theoretical studies contributes to clarify it
and reforces the ideas that there is a link between the
particular research and broader explanation modes, as
well as between methodology and philosophy - conscious
or unconsciously. Five problems are listed for a thinking
of the scientific work in this area, in the way to confront
the theory with the reality and to demonstrate the limitations
of a rigidly structured modeling of nature: "scales
and
hierarchies", "interests in
modeling", "competition among fragments",
"dynamism and conservationist", and "gradients".
Throughout these problems it concludes for the necessity
of a more dynamic and complex conception of nature in
substitution to the rigidly structured models that try
to make universal those restricted criteria of environmental
analysis. Doing this way, the process of modeling the
reality shall reflect the subject-object interaction mediated
by search interests, as to better represent the reality,
and not to conform it to the previously defined schemes,
which are outsider to the problems, analyzed.
Key words: Landscape ecology; sructuralism; Philosophy
of Science.
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